18 de junho de 2008

Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

Eu era feliz e ninguém estava morto.

Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,

E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.


(...)


O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,

Pondo grelado nas paredes...

O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas)

O que eu sou hoje é terem vendido a casa,

É terem morrido todos,

É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!

Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,

Por uma viagem metafísica e carnal,

Com uma dualidade de eu para mim...

Comer o passado com pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!


(...)


Pára, meu coração!

Não penses! Deixa o pensar na cabeça!

Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!

Hoje já não faço anos.

Duro.

Somam-se-me dias.

Serei velho quando o for.

Mais nada.

Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...


O tempo em que festejavam o dia dos meus anos..."



Álvaro de Campos


Este poema, um dos meus preferidos de sempre, dedico-o à minha irmã que já não queria fazer anos. Mas fazer anos é tão bom! É ter toda a família reunida só por nossa causa, é ter os nossos amigos ao nosso lado, é festejar a nossa vida e isso é importante! Aliás, a família Francisco a cantar o "Parabéns a Você" é digno de se ouvir. Fantástico! Merecia um Emmy! :)
Sejamos felizes com o que temos, para que não nos lamentemos mais tarde. Já dizia o outro, que a felicidade está não em se ter o que se quer, mas em querer o que se tem...

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