Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.
(...)
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas)
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado com pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
(...)
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos..."
Álvaro de Campos
Este poema, um dos meus preferidos de sempre, dedico-o à minha irmã que já não queria fazer anos. Mas fazer anos é tão bom! É ter toda a família reunida só por nossa causa, é ter os nossos amigos ao nosso lado, é festejar a nossa vida e isso é importante! Aliás, a família Francisco a cantar o "Parabéns a Você" é digno de se ouvir. Fantástico! Merecia um Emmy! :)
Sejamos felizes com o que temos, para que não nos lamentemos mais tarde. Já dizia o outro, que a felicidade está não em se ter o que se quer, mas em querer o que se tem...
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