«Gozo os campos sem reparar para eles.
Perguntas-me por que os gozo.
Porque os gozo, respondo.
Gozar uma flor é estar ao pé dela inconscientemente
E ter uma noção do seu perfume nas nossas ideias mais apagadas.
Quando reparo, não gozo, vejo.
Fecho os olhos, e o meu corpo, que está entre a erva,
Pertence inteiramente ao exterior de quem fecha os olhos
À dureza fresca da terra cheirosa e irregular,
E alguma cousa dos ruídos indistintos das cousas a existir,
E só uma sombra encarnada de luz me carrega levemente nas órbitas,
E só um resto de vida ouve.»
Alberto Caeiro
Não concordo muito com o modo de vida que ele anseja, mas há algo de maravilhoso em, simplesmente, "sit back and enjoy". Deixar que os nossos sentidos apreendam a verdade que nos rodeia e não permitir que a razão nos nuble a vista...
2 comentários:
Fernado Pessoa é Fernando Pessoa (passo o pleonásmo)!
Gosto de todos os heterónimos, mas confesso que sinto uma predilecção especial pelo Ricardo Reis, devido à sua formação clássica. O meu trabalho de seminário foi sobre a figura feminina em Horácio e recorri à intertextualidade, nomeadamente com a poesia de Ricardo Reis.
Cá eu já sou mais Álvaro de Campos "o mais histericamente histérico de mim"! E gosto também do ortónimo. O meu menos preferido é mesmo o Caeiro, que aqui cito.
Mas mesmo fixe, são as cartas de amor à Ofelinha, libelinha! Lindo!
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