17 de outubro de 2008

A noite?

Oral obrigatória de Literatura Grega II. Valia a nota de final de ano. Eu não sei nada de Grego e por isso sempre me safei melhor nos exames, em que tenho tempo para pensar e para consultar os dicionários, do que nas orais em que temos de ter tudo na ponta da língua. Entrávamos dois de cada vez na sala de oral. Enquanto um respondia às perguntas, o outro ia vendo o texto que lhe calhava em sorte. O meu era este (mais acento menos acento e com espíritos):
A noite


Εΰδουσι δ’ ορέwν κορυφαι τε καί φάραγγες

Πρωονές τε καί χαράδραι

ΰλα τ’ έρπέτ’ όσα τρεφει μελαινα γαια

θηρές τ’ ορεσκωιοι καί γενος μελισσαν

καί κνώδαλ’ εν βενθεσσι πορφυρέας αλος·

έυδουσι δ’ οίωνων φυλα τανυπτερυΥων.

Li o texto e não percebi nada. Não tinha dicionário. Estive a ouvir as perguntas que eram feitas à minha colega e estava mesmo a adivinhar um chumbo. Chega a minha vez...


JRF - Boa tarde (eram 19h).

Eu- Boa tarde. Eu sei que não abona muito em meu favor, mas eu não tive muito tempo para estudar e não preparei estes textos...

JRF - Não diga isso. Vai ver que consegue. Diga-me lá, de que é que fala o texto?

Eu - Da noite? (li, claro está, o título do poema que estava em Português)

JRF - Está a ver que sabe! E mais?

Eu - (a tentar com todas as minhas forças descortinar qualquer coisa que fizesse sentido) Fala em abelhas e na terra... (as duas únicas palavras que conhecia no meio daquilo tudo, para além das preposições e conjunções...)


Conclusão? 16 valores. :) Um momento de pura sorte. O meu bem-haja para o JRF que é um querido que, ainda hoje, me cumprimenta quando me vê. Bem, estou é a ver que ainda vem alguém retirar-me o diploma... Mas... Como ainda não o tenho, não mo podem tirar! Ihihihih! :)
(Dormem os cumes das montanhas e as ravinas,

os promontórios e as torrentes,

a floresta e quantos animais cria a terra negra,

as feras das montanhas e a raça das abelhas,

e os monstros nos abismos do purpúreo mar;

dormem também as tribos das aves,

com as suas grandes asas.)
Álcman (Séc. VII a. C), in Hélade, Edições Asa, pág. 128. (Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira)

12 comentários:

Rony disse...

As orais são, de facto, momentos únicos de emoções intensas.

A tensão, a ansiedade, o cansaço (antes de uma oral a noitada de estudo [ou não :)] é certa!), os nervos, o confronto directo, o desejo que acabe (de preferência com uma nota do nosso agrado)...

Kiss

Ianita disse...

O meu historial com as orais começa em 1999 quando fui a oral de Grego I com 10 valores e chumbei... :(

Esta oral estava marcada para as 9h da manhã... Começou às 19h... A tensão e os nervos a crescer. Horrível. Mas o resultado foi bastante bom, por isso...

Kiss

Isandes disse...

Isso para mim, é Chinês. Bem, Grego vai dar no mesmo. Ou Árabe. Ou Sânscrito. Ou Xlimjehue-nu. lol
Tiraste quê, Português, Latim e Grego? Muy bien

Ianita disse...

Línguas e Literaturas Clássicas e Portuguesa - ramo de formação educacional.

Mas basicamente é o que disseste :)

Para mim aquilo também é Grego!! A diferença é que consigo ler, mas continuo sem saber o que lá está escrito! :) Por isso é que digo que qualquer dia me tiram o diploma! LOL

Kiss

u João disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ianita disse...

Este é um doce. E a verdade é que a frequência tinha sido bastante boa e três trabalhos e respectivas defesas orais... portanto, aquele momento da oral já não valia só por si. Valia a opinião que o professor tinha de mim que, pelos vistos, era boa :) (e foi por razão inversa que chumbei na outra oral, a de Grego).

Este momento foi caricato. Porque repeti o título do poema e ele fez-me uma festa :)

O grego é bonito, só que exige tempo e dedicação que eu não lhe tinha :)

E sim, palavras bonitas.

Kiss

_+*Ælitis*+_ disse...

Parabéns, foste realmente abençoada com a sorte :))

Beijo meu ♥,

A Elite

Ianita disse...

:)

Kiss

Paulo Lontro disse...

το μωρό μου είχε την τύχη σας έπεσε εξ ουρανού.
ευχαριστίες στους θεούς.


Αναρωτιέμαι, αλλά χρησιμεύει για να μάθουν ελληνικά;
αυτή τη γλώσσα εξακολουθούν να υπάρχουν;

Ianita disse...

Gostava muito de mostrar que sei o que escreveste, mas, a cada ano que passa, a minha inépcia para o Grego aumenta mais. Além disso, e porque não me dei por vencida à primeira, quando ia buscar o dicionário para tentar traduzir o que aí tão sapientemente dizes, descobri que não os tenho.

Ou seja, emprestei-os e não mos devolveram ainda...

Por isso, aparte uns determinantes artigos e uma ou outra palavra, não percebo nada!!! :)

Kiss

Paulo Lontro disse...

http://translate.google.com/translate_t?hl=pt-PT&sl=pt&tl=es#

Ianita disse...

Bem... tinha entidido as palavras "céus","deuses" e "grego". :)

Vale muito a pena. Uma língua é como um puzzle e quem diz que quem gosta de letras não é dado às matemáticas, é porque nunca teve de traduzir um texto de uma língua que não dominamos totalmente.

O Grego clássico não se fala como não se fala o Latim, nem o Português medieval, mas vivem. Vivem nas palavras que dizemos ainda hoje.

O Português, a nossa língua, não nasceu do nada. Para além de ser 80% Latim e 16% Grego, é também cultura. E tem Virgílio e Sófocles e Homero e Ovídio e transpirar em cada palavra.

Por isso sim, vale a pena. :)