26 de dezembro de 2008

Pôr-do-sol


Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.

Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.

Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.

Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.

Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

12 comentários:

Rony disse...

Até me arrepiei, palavras para quê? Simplesmente Sophia.

Lita disse...

Deslumbrante... beijo.

Brigitte disse...

Magnifico e a foto deslumbrante!
Bom fim de semana
beijos
:)

Lize disse...

Sophia de Mello Breyner... Simplesmente das melhores escritoras de sempre, cá na minha opinião. E adorei a foto ;)



Beijocas

O Cigarrilha disse...

lindo:)

MoonDreamer disse...

O principezinho, num dia só, viu 44 pôr do sol no seu pequeno planeta. E tu, quantos já viste hoje?

Ianita disse...

Hoje vi um... pode não ser muito, mas valeu por muitos! :)

E tu, quantos viste hoje? :)

E sim... Sophia... :)

Kisses

F'Oliveira disse...

bem a imagem e' linda , e este poema , MEU DEUS , Perfeitoo , espero que corra tudo bem neste anos que vai entrar em tua vida .

descp a invasao , mas nao resisti :P

beijinhos

Isandes disse...

Alô! Os meus 2 poemas preferidos de sempre são da Sophia: "Porque" e "Quando", ambos a descair pró mórbido, mas muito à frente. Conheces? Se não, check it out. xuac

Dawa disse...

Beijinho grande, Ianita!

M. disse...

Está lindo e a foto fantástica!!

um Bom Ano Novo para ti***

Ianita disse...

Obrigada a todos...

São poucas as pessoas que têm o dom da palavra. Que conseguem dizer o que querem, quando querem e na intensidade que querem. Que conseguem transportar-nos no tempo, no espaço e nas emoções. A Sophia era uma dessas raras pessoas.

Conheço bastante bem a poesia dela, pelas influências clássicas e por ter feito parte dos curricula do secundário... qualquer dia posto o meu poema preferido dela :)

Beijos a todos e um 2009 em altas!