Era um mundo novo...

Se eu começar assim... só assim... era um mundo novo... se entoar uma melodia com estas palavras... só com estas quatro palavras... aposto que há meio Mundo (vá, meio mundo português e da minha geração) que continua... que sabe o verso que vem a seguir... ou pelo menos que sabe exactamente de que música é isto. Acho que toda a gente do meu tempo sabe isto.

Do meu tempo. Estranho. Não sou velha. Sou nova. Mas tenho nostalgia do passado como os velhotes. Não são saudades porque não quero voltar atrás. É mesmo nostalgia. E o mais estranho é que não sinto só nostalgia do meu passado. Eu sinto nostalgia de passados que não vivi.

Ontem, ao ver o primeiro programa sobre o festival da canção, choraminguei algumas vezes. Normal? Pois seria, se tivesse choramingado com as minhas músicas. Com aquelas que recordo da minha infância. Mas choraminguei com músicas de um passado que não é meu... um passado que eu não vivi. Estranho.

Há um conto do Virgílio Ferreira chamado "Sociedade Recreativa" que fala de uma aldeia feita de um tempo muito antigo. Sempre gostei desta expressão, desde a primeira vez que a li ali. E acho que eu sou assim, como a aldeia, feita de um tempo muito antigo. Como se fôssemos duas. O eu antigo e o eu novo que aqui habita. Porque se gosto de estar com a mantinha sobre as pernas e gosto de ver o Conta-me como foi e especiais do festival da canção, também gosto de ir a discotecas e beber copos. Somos duas. Uma tem 28 anos e a outra não sei... porque não são só as coisas com 50 anos que a emocionam. Ela sente nostalgia de todos os passados. Mesmo os mais antigos. Por isso, não sei há quanto tempo ela por aqui anda. Sei que é feita de um tempo muito antigo.