31 de março de 2009

Dos boatos

Lembrei-me deles por causa de uma conversa com o Iandu, no twitter, acerca de jogos de cartas. Eu sei que uma coisa não tem a ver com a outra, mas na minha cabeça fez tanto sentido que me lembrei.
Pelo que sei, sempre houve muitos boatos associados às mulheres da minha família, mas eu só me dei conta desse grande fenómeno que é o boato, penso que nos meus 18 anos. Dizia-se que alguém na minha rua tinha feito um aborto. Ninguém sabia quem tinha sido (ou se tinha sido alguém), mas toda a gente, por exclusão de partes, sabia de certeza absoluta que tinha sido eu. Basicamente porque das raparigas da minha rua eu era a única que não ia à Igreja, por isso, só podia ter sido eu. Além disso, supostamente eu estava muito mal no Hospital porque o dito cujo aborto não tinha corrido bem. Na altura ri-me. Depois comecei a chatear-me.
Eu sei que os olhares não arrancam bocados de nós. Eu sei que cochicharem quando nós passamos não devia ferir, mas fere. Pensamos sempre que se não dermos importância que as coisas passam, mas não passam. Ficam para sempre. Mais de dez anos passados e eu ainda sou a que fez o aborto. Pior, entretanto já me arranjaram mais dois abortos, por isso sou a que fez 3 abortos. Pelo menos por enquanto a contagem mantém-se assim.
Numa destas Páscoas, penso que há dois anos, a minha mãe ficou na recém-inaugurada casa da minha irmã para abrir a porta ao padre, para a bela da benção. Um dos senhores que ia com o padre estranhou ver ali a minha mãe e perguntou-lhe o que ela fazia ali (como se tivesse alguma coisa a ver com isso). A minha mãe, ingénua, sem saber o que dali ia vir, respondeu que aquela era a casa da filha. Soube por uma amiga que alguém abordou a mãe dela a contar a novidade. Eu estava amantizada, com um homem imagine-se, naquela casa onde viram a minha mãe. A mãe da minha amiga riu-se e disse que não era verdade, que aquela era a casa da minha irmã. A sra. respondeu "nada disso! Eu sei bem onde mora a irmã dela e não é ali". Gostava de viver a minha vida com tantas certezas como tem esta senhora, coitada.
Os boatos não tiram bocados, mas chateiam. Porque embora sejam mentiras puras e duras, permanecem no mesmo saco das verdades. Fazem parte da nossa bagagem. Naquela terra eu vou ser sempre a que fez 3 abortos (por enquanto!) e que vive amantizada com um homem na casa da minha irmã. Isto já não me irrita. Chateia-me. Não posso ignorar os olhares, nem as palavras jocosas quando passo, nem as certezas absolutas que têm da minha vida. Eu vivo ali. Habituei-me a não sair muito de casa. Quando saio é para ir para fora. Não vou sequer tomar café, a não ser ao Domingo, com a famelga toda. Não fiz nada que justificasse isto. Ainda assim...
Portanto, se ouvirem contar estas coisas, sorriam. É o que tento fazer. :)

22 comentários:

Li disse...

Enfim...mas será que esta gente não tem mais nada que fazer?...não tem com certeza, doutra maneira entretinham-se com as suas próprias vidas em vez de inventarem coisas em relação aos outros.
Eu nem imagino a quantidade de coisas que as minhas vizinhas dizem a meu respeito, mas nem quero saber...só sei que de cada vez em que algum colega meu (rapaz) pára aqui por qualquer motivo começam logo a magicar romances, como se eu não pudesse ter amigos homens. Enfim...o melhor mesmo é não ligares ou então fazer um comunicado público a esclarecer o assunto, tipo na Igreja, já que essas cuscas, bisbilhoteiras e inventoras de boatos passam lá os dias.

Bjitos

IandU disse...

Continuo a dizer: eu alimentava ainda mais.
Alguns até diria da minha própria boca.

Haveria tantos que eles já nem sabiam para onde haviam de se virar.

izzie disse...

Meu Deus!!!
É a loucura... mas sei tão bem... tãaaao bem o que é ser olhada por boatos ou sem eles... por simples interrogação.
Há dias em sorris, há dias em que moi.
Mas o importante é seres sempre tu, com as tuas certezas! :)

Beijo,

Rice Man disse...

O_O Como... é... que... é... possível...!? MESMO que tivesses feito um aborto essas pessoas não tinham nada a ver com isso! E só porque não ias à Igreja? É preciso ter lata! Se calhar andam a apontar o dedo a outros (sem provas) para desviarem as atenções delas próprias e depois vão à Igreja e comportam-se com se fossem santinhas...O mais incrível é que essas pessoas convencem-se que os boatos são a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade e nem com FACTOS essa verdade é minimamente abalada! Porque elas têm uma auréola reluzente e o resto do mundo vai arder no Inferno.
Não vou fingir que sei o que sentes... mas sei que não é fácil lidar com isso. Nada mesmo... Mas parece-me que tens a atitude certa (se bem que essas pessoas mereciam ser confrontadas com as coisas que andam a fazer). E não tentes sorrir... sorri mesmo! Sorri com a certeza inabalável que as pessoas que gostam mesmo de ti sabem a verdade! Sorri sabendo que és melhor pessoa do que alguma vez elas serão! Sorri e faz o mundo saber que és forte de maneiras que o próprio mundo desconhece! Sorri porque sabes que o caminho para a felicidade tem muitos obstáculos mas estes afectam-te tanto como uma brisa de Verão comparados com outros! Sorri porque só as pessoas de consciência tranquila o conseguem fazer de forma perfeita! Sorri Ianita, sorri! :)***

spritof disse...

Não há que te chateares, a não ser com a eventual inconveniência que isso possa causar a alguém próximo de ti.

As pessoas que lançam e vivem desses boatos (e mesmo que fossem verdade) são tristes e miseráveis, e isso é a única formaq de se sentires mais do que são.

Há só que ter pena dessas pessoas, de tão estúpidas que são, ignorantes e muito muito muito pequenas de espírito.
É que são mesmo infelizes!

O único sorriso que sabem esboçar é aquele que resulta do infortúnio dos outros.... e não havendo, há que criá-los. E não é que acreditam mesmo nisso?
Tão infeliz vida que têm...
É uma pena!

Vera Angélico disse...

Deve ser problema comum daqui do burgo. Desde pequena que fui habituada a isso, tendo em conta que nunca fomos de muitas conversas por aqui. Não íamos ao café da esquina, e isso despertava a curiosidade das pessoas. Acho que inventavam, por não saberem nada...

Com o tempo, a cusquice agravou-se e começou a roçar o ridículo. Cresceu à proporção do incómodo que causou, e disseram-se coisas desagradáveis. Muito desagradáveis...

Não sei qual é a postura certa. Porque acho que é impossível ficar indiferente. Ou não ligar. Simplesmente temos que aprender a viver com...

Beijos.

Hélio disse...

Conhecendo como conheço as pessoas dessa zona, nao m admiro NADA dessas coisas... qto mais uma pessoa se fecha, mais especulam, cuscam, extrapolam do nada... As pessoas têm mt medo do q nao conhecem, têm muito medo do que nao controlam, têm mt medo q a vida dos outros seja mt melhor do que a deles (o q nao deve estar muito longe da verdade)... enfim, é chegar ao pé deles e dizer-lhes "siiiiiiiim!". Mas, por mais palavras q digamos, só tu é q sabes o q passas por esses olhares... Sorri, sorri sempre, a tua alegria é a maior derrota delas...

Beijo

Mag disse...

Os boatos, o "diz-que-disse", são coisas com uma negatividade terrível (infelizmente, bem o sei!).
Não matam, mas moem. E como!
E o pior é que não há nada a fazer.. apenas o tempo acaba por se encarregar da situação.
Nós, só podemos mesmo ignorar. E sorrir, embora por dentro doa.
Beijoca grande, linda!

Brigitte disse...

Não é por nada, mas conheço perfeitamente esse tipo de vida(o de só falar da vida dos outros e esquecer a deles), isto porque, infelizmente a pessoa que se juntou à minha familia e que é praticamente tua vizinha, gosta muito de julgar a vida dos outros, sem nunca olhar para a sua!!!!

Mas sabes uma coisa, faz como eu qd estou com esse tipo de gente, ergue e cabeça e fala de poesia!!!

lol

beijos
:)

Ianita disse...

Lilipat: por mais que não queira ligar, ligo. Não consigo evitar.

À conta disso já mudei os meus planos de vida. A minha avó tem uma casa, linda. A precisar de obras, mas linda. E como metade da casa e dos terrenos é da minha mãe, estava a pensar que podia comprar a parte do meu tio e ficar com a casa para mim. Desisti porque os meus tios vivem ao lado. E quero ter independência. Não quero que andem a ver quem levo para casa ou deixo de levar. por isso, desisti da ideia. Vou alugar qualquer coisa em leiria ou na Batalha.

Kisses

Ianita disse...

Iandu: tenho de pensar nos meus pais. Tenho de pensar que não é agradável para eles ouvirem este tipo de coisas... eu tento ignorar, mas é difícil.

Kisses

Ianita disse...

Izzie: sou eu, sem dúvida. E vou continuar a ser eu. Só seria hipócrita dizer que não me incomoda e que não me muda. Muda sim. Para já, muda a minha vontade de querer continuar na terrinha...

Kisses

Ianita disse...

Homem do arroz: "Sorri, macambúzio, sorri!" :) (fizeste-me lembrar o anúncio da frize)

Eu sei quem sou e o que fiz e o que não fiz. As minhas pessoas também sabem. As cuscas e os cuscos são pessoas tristes que não têm mais que fazer, mas estas coisas magoam.

É que já fiz muita asneira. Já fiz muita porcaria. Mesmo. Mas nunca na terrinha. Por isso, eles não têm mesmo nada a apontar-me. Mesmo ao que à religião diz respeito, fiz o Crisma, andei na Catequese e essas coisas todas. Não entendo por que é que me escolheram a mim. Acho que não vou entender nunca. Tenho pena deles, mas não consigo agir como se não existissem...

Kisses :)

Ianita disse...

Spritof: eu não me chateio, mas também não é normal. Não consigo agir como se nada fosse. Entendes?

Claro que nos fartámos de rir quando correu o boato de que eu morava na casa da minha irmã, a pensar nas variantes do boato que se seguiriam... ainda iam pôr o meu cunhado a deixar a minha irmã e a viver comigo ou coisa que lhe valha. Rimos. Mas no fundo do meu riso, não deixa de haver uma ponta de desilusão...

Kisses

Ianita disse...

Vera: Há pessoas assim em todo lado, mas parece-me que se concentram nos lugares pequenos.

Se calhar devia ter saído mais de casa ou coisa que lhe valha. Não sei explicar este fenómeno.

Kisses
(ri-te! Já que não podemos fazer mais nada...)

Ianita disse...

Hélio: é que a maior parte destas pessoas não me vê há anos. Mesmo. Eu não ponho o nariz fora de casa naquela terra. Quando saio é com a família. Por isso... eles não me vêem nem a má cara, nem o sorriso... aliás, podiam esquecer que eu existo que eu agradecia :)

Kiss

Ianita disse...

Mag: o tempo não resulta, infelizmente. O boato mistura-se com a verdade e vai fazer sempre parte da nossa bagagem. Ainda hoje há quem jure a pés juntos que é verdade que eu "pelo menos um aborto" fiz. Nunca estive grávida, por isso...

E ainda que estivesse, ninguém tinha nada com isso. Mas nunca estive. Mas isso é um pormenor...

Kisses

Ianita disse...

Brigitte: Vês!! Por isso é que eu não a conheço!! Está explicado!! :)

Beijo!!

Brigitte disse...

Deixa lá, que se a conhecesses não conhecias grande coisa!!!

lol

Ianita disse...

Brigitte: é que eu tento ignorar as "más-línguas" :) eheheheh

Li disse...

Fazes bem em não ficar ao pé deles...para além de te "espiarem" iam encher, provavelmente, os ouvidos dos teus pais com coisinhas sem importância...
Eu também queria ter o meu cantinho, mas neste momento o ordenado é baixo e a estabilidade muito pouca...tenho de me aguentar mais algum tempo...:/

bjitos

Ianita disse...

Lilipat: eu estou a começar a poupar para isso... estou com esperança que no próximo ano já dê... a ver vamos :)

(vais ver que tb consegues!)