Fascina-me este olhar... como uma presença segunda, terceira, outra. Este olhar que me fixa, que me prende e que não me deixa prosseguir. Um olhar penetrante, revelador. Um olhar que queima, que gela, que me dilacera. Aquela presença, aquela omnipresença. Só o saber que está lá me incomoda. Só o sentir o seu olhar a queimar-me na nuca já me arrepia, já me queima, já me vence. Preferiria prosseguir sem saber que me olha. Preferiria não saber que me persegue, que me segue, que me segue o rastro, que é eu. Preferiria seguir na ignorância da sua presença em mim. Medo de ser tomada por este olhar. Medo de ser dominada por algo mais forte e mais avassalador que eu e que sou eu. O outro eu. Aquele. Aquela Ana que me vê, que me espreita, que me queima com o olhar e que ameaça, assim só com a sua presença. Que ri. Ri por me ver impassível, ri por me ver manietada, e ri porque sabe que no dia que quiser ser ela o eu, será. Sem oposição. Inevitavelmente será eu. E o saber disso assusta e fascina. Assusta porque ela é destruidora, implacável, louca e fascina porque é destruidora, implacável, louca... Vence-me pelo cansaço da perseguição... pelo cansaço do caminho... pela dor da caminhada... pela dor do olhar... vence-me apenas por existir.
Por enquanto persisto e sigo. Ainda eu. Ainda eu. Ainda eu. Sigo. Com aquele olhar no meu encalço. Sempre. Presente. Zombatório. Olho para trás e parece-me que vejo ainda uma réstia de sorriso e sinto um calafrio. E sigo. Até ao dia...
2 comentários:
Estaremos aqui. Mesmo nesse dia. Especialmente nesse dia.
O texto está maravilhoso...:)
Nós estaremos sempre aqui, seja qual for o teu eu a vir...:)
bjitos
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