1 de agosto de 2009

Delas também reza a História

Natália Correia



Nasceu em 1923 em Fajã de Baixo, lugar pequeno, mas muito propício a andarmos perdidos por lá. Mudou-se para Lisboa com apenas 11 anos e foi lá que viveu até morrer em 1993.

Escritora, ensaísta, jornalista, poetisa... mulher. Na televisão tornou-se conhecida com um programa feminino Mátria, onde advoga o matricismo, identificador da mulher como arquétipo da liberdade erótica e passional e fonte matricial da humanidade.

Foi sempre uma mulher de pensamento e de acção. Esteve envolvida em vários movimentos contra o Estado Novo. Em 1980 viria a ser eleita deputada. Os seus discursos ficaram famosos, principalmente quando se deu o debate do aborto, cuja despenalização ela defendia fervorosamente. Coitado do Morgado que era capado :)

Foi sempre uma mulher de M maiúsculo. Casou 4 vezes. Teve muitos amigos. Escreveu. Agiu. Pensou. Escreveu palavras de ternura e de ataque. Escreveu. Poetisa. Mulher.

Legou a maioria dos seus bens à Região Autónoma dos Açores, que lhe dedicou uma exposição permanente na nova Biblioteca Pública de Ponta Delgada, instituição que tem à sua guarda parte do seu espólio literário (que partilha com a Biblioteca Nacional de Lisboa), onde constam muitos volumes éditos, inéditos, documentos biográficos, iconografia e correspondência, incluindo múltiplas obras de arte e a biblioteca privada.

Para terminar, Natália Correia descrita pela mesma, neste belíssimo auto-retrato.





Auto-retrato

Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.

6 comentários:

M disse...

Esta senhora já conheci! Sim senhora! Uma grande mulher!

Ianita disse...

Sayuri: e não são todas? Cada uma à sua maneira? :D

Luisa disse...

É verdade, somos todas grandes mulheres, só que cada uma à sua maneira. Natália Correia foi-o, mas morreu cedo demais. O marido dela deixou-se morrer, pela falta do amor dela.

Beijinhos

Ianita disse...

Luísa: isso eu não sabia... sabia que ela tinha casado uma quarta vez com alguém que ela considerava amigo, companheiro. O grande amor dela foi o terceiro marido que morreu acho eu que no início dos anos 80... não tinha parado para pensar que este 4º marido, visto por ela como um amigo, pudesse amaá-la... que ela pudesse ser a mulher da vida dele, mesmo ele não sendo o homem da vida dela... a vida tem destas coisas, não é?

Obrigada.

Beijos

Rony disse...

Linda de morrer, inteligentíssima, charmosa e irresistível, uma autentica mulher-furacão... a fotobiografia está na minha lista...

Ianita disse...

Verónica: todas as palavras do dicionário não chegam para a descrever :)