31 de outubro de 2008

Ó tia dá boliiinhooooo?

Qual noite das bruxas qual quê. O dia do Bolinho é que é. Como eu adorava este dia. Um dia inteiro para andar na rua, de porta em porta, a pedir doces. Não percebia bem porquê, mas era assim desde sempre e eu gostava tanto! Lembro-me de pensar que tinhamos um Governo fantástico que consagrava um dia feriado apenas e só para nós, miúdos, irmos pra rua pedir doces! (A inocência das crianças). Saberia depois que é Dia de Finados e que por isso é que é Feriado.


Ia com o meu irmão e com alguns vizinhos que tinham mais ou menos a minha idade. Tínhamos a lição estudada e tínhamos que andar bem para não perdermos casa nenhuma (porque depois do almoço já não rendia).

Levávamos três sacas de pano: uma para as merendeiras (a que algumas pessoas chamam broínhas), outra para os chocolates e rebuçados e assim, e outra para frutos secos e romãs (que eu não gostava nada de receber, mas que nunca recusava, porque cada um dava o que podia). Ao chegar a cada casa só tínhamos que repetir a altos pulmões: Ó tia dá boliiiinhoooo? E davam sempre. :)


Quando as sacas ficavam pesadas demais para os meus braços e pescoço (sim, pendurava uma das sacas ao pescoço) e com pouco espaço para mais doces e porcarias, era tempo de voltar ao quartel-general, lá em casa. Punhamos tudo em pratos, as minhas coisas separadas das do meu irmão, se bem que valia de pouco porque ele arranjava maneira de me sacar os doces. Cruzávamo-nos com outros miúdos que pediam o bolinho em minha casa. Os meus pais enchiam as mãos de doces que punham dentro das sacas de cada um (às vezes os doces não chegavam e lá ia a minha mãe à loja comprar mais). E lá íamos nós para mais uma ronda. Só havia uma regra: não repetir casas! :)

Claro que neste dia não havia chuva nem vento que nos derrubasse. O que nos derrubava era a nossa gulodice. Lá íamos andando e tentando despejar as sacas comendo alguns poucos rebuçados e chocolates... a verdade é que, quando dávamos a colheita por terminada, normalmente por volta das 15h, lá estava a canjinha à nossa espera em casa. A minha mãe já sabia que vínhamos mal-dispostos e que uma canjinha caseira quentinha... hummm... vinha mesmo mesmo a calhar.

Agora... agora a festa é dos mais novos. Menos que antigamente, parece-me. As tradições (mesmo as bonitas e deliciosas como esta) vão-se perdendo no tempo. Agora divirto-me com o meu pai que, antes de dar os doces aos miúdos que vão lá pedir, invariavelmente pergunta: "És filho de quem?". :) E assim vai ficando a conhecer a nova geração lá da terriola.
Para quem quiser contribuir para que eu tenha um Dia do Bolinho feliz, é favor enviar umas merendeiras de batata doce. Ah! Detesto passas, por isso aquelas outras merendeiras cheias de passas não são benvindas. Mas há umas de azeite que levam frutos secos, mas não levam passas, ue também são muito muito boas. Hummmm...


E como antigamente, lá estaremos eu e o meu irmão a lutar pelos despojos, os restos dos pacotes dos doces que não foram distribuídos... :) Amanhã.

17 comentários:

Rony disse...

As lembraças felizes dos nossos tempos de meninice valem ouro ;)

Ianita disse...

Valem mesmo... muito. Muitíssimo.

A inocência.

kiss

Brigitte disse...

Hoje é dia de fazer bolinhos lá em casa.....epá que saudades daquele cheiro e daquele sabor....

Bom Fim de Semana e se fores aos bolinhos Boa Sorte.
beijinhos
:)

Ianita disse...

Siimmm... que saudades....

Mas não vou aos bolinhos porque já sou muito grande... fico em casa a dar bolinhos aos meninos que lá vão... e fico a comer as bolinhos que as minhas tias lá vão deixar.. hummm...

Bom fim-de-semana. Kisses

TolicesOC disse...

Olha, os bolinhos das tias, vê lá se não os comes todos... Eu também quero!

Sua gulosa!!!

Bjs,

Lita disse...

Opá, em Faro não havia nada disso!!!!
Fiquei com água na boca!

Ianita disse...

Olga: perdeste o direito a eles! (isto estou eu a dizer sem saber se elas este ano os fazem e, se os fizerem, se os vão lá levar...) Mas, de ano para ano, elas levam menos, por isso... chuchas no dedo! São pra mim e pro Vasco! Ihihih!

Lita: A Verónica que é de Tavira também já me tinha dito que esta tradição era desconhecida aí em baixo.
É uma delícia!!

Kisses

TolicesOC disse...

Eu digo-te quem é que lhe perdeu o direito...

u João disse...

Olá! Em vez do halloween, parece-me um bonito conto de natal.Gostei imenso de ler, muito ternurento nos pormenores.Tava a ler e a ver, todas essas peripécias deliciosas dos tempos da meninice.
Aqui no Porto, essa tradição não se usa, o que é pena.Aproximava as pessoas,e, isso era muito bonito.
A canjinha :) quem tem uma mãe
assim!
beijo

Dawa disse...

Era MUUUUUITO mais giro!
Beijinho

Ianita disse...

Olga: vais ver! :) Vamos comer tudo e não te deixamos nada!

João: foi em Coimbra que descobri que afinal isto do Bolinho não era comum a todo o país. De facto é uma pena.
Antigamente, no tempo dos meus pais que também iam Bolinho, as pessoas davam fruta da época e os mais ricos lá davam as merendeiras. Como havia muita fome, os miúdos ficavam todos contentes com as ofertas e de barriga cheia :)
No meu tempo, felizmente, era mais gulodice :)
Os mais velhos, com 14 ou 15 anos, costumam ir de tarde, em grupos grandes, com um lençol. E essses são muitas vezes convidados a entrar e a beber uma pinga! :)

Adoro este dia. Pelas memórias que traz e pela realidade que ainda é na minha zona. E por isso é que não vou numa de Halloweens...

(A canjinha já está pedida e a galinha pronta para ir pro tacho!)

Kisses :)

Ianita disse...

Dawa: Não era? Para quê importar uma tradição parva que não tem nada a ver connosco se temos uma linda que é nossa?! Não entendo isto.

Kiss

miak disse...

Lol.

Bons bolinhos.

Anita disse...

ahhh...aqui no porto não há dia do bolinho para ninguém, sniff, snifff:(((
e, agora bem que ia uma fatiazita:)))

Beijinho e, um fds simpático para ti!

Ianita disse...

Mas qual fatia qual quÊ! Uma merendeira é pequenita! Come-se inteira. À grande!

Bom fim-de-semana.

Kiss :)

Isandes disse...

Como disse u joão, aki no norte não se usa, mas no alentejo os putos ainda acham alguma piada.
O slogan é "blim blim, vem pró meu saquinho!".
Esse relato fez-me lembrar as Janeiras; aí sim, fazia mesmo frio, no rigor do Inverno... E lá andávamos a bater às portas, "Olaré, cantaremos?" e a contar os tustos e a dividi-los muito pouco irmãmente (eu era roubada por ser + nova...). xuac

Ianita disse...

Acho estas tradições tão giras. Gosto mesmo. São deliciosas e devem ser mantidas por serem tão genuinamente e saborosamente nossas :)