28 de janeiro de 2009

Great Expectations

Expectativas. Todos as temos. Uns mais que outros. Não tem que ver com sonhos... os sonhos são outras coisas. Mais irreais, mais inalcançáveis, mais difíceis. Lidamos com expectativas todos os dias. Levanto-me mais cedo para ir ao médico e desejo que ele me atenda. Fui com uma expectativa, que, só por acaso saiu gorada.
As expectativas são o que esperamos. Da vida, dos outros, de nós. As expectativas, como os sonhos, vão-se alterando com a vida. O que espero hoje da minha vida não é o que esperava há 20 anos. Hoje tenho os pés na terra e o que antes eram expectativas, hoje são sonhos.
Sonho com uma viagem à volta do Mundo, tenho expectativas relativamente ao aumento que há-de vir.
Principalmente, tenho expectativas relativamente às pessoas. Muitas. Já aqui se falou de intensidade. E este é o grande problema da intensidade... nem todas as pessoas são intensas, nem todas as pessoas dão na medida em que recebem. Nem todas as pessoas usam o mesmo dicionário. Nem todas as pessoas têm o mesmo conceito de amor, amizade, companheirismo. E quando dar é uma coisa tão tão boa, tão boa que nos enche a alma por estarmos a deixar alguém feliz, tão boa que nos alivia um pouco o peso dos ombros e da alma... quando dar é uma coisa tão boa que consegue ser o reverso da medalha... quando as pessoas não cumprem as expectativas que temos delas. Quando não recebemos na medida em que damos. Quando percebemos que somos dispensáveis, descartáveis, substituíveis.
Se calhar haverá vantagem em não esperar nada. Quando não se espera nada, somos normalmente surpreendidos pela positiva. Mas é triste viver assim, não é? Há duas ou três pessoas na minha vida de quem não espero nada. Pessoas que não vêem a amizade da mesma forma, pessoas que não são capazes de entrega. Dessas pessoas eu não espero nada, ou quase nada. E a verdade é que, ao longo do tempo, me têm surpreendido pela positiva. Mas... eu achava que tinha meia dúzia de amigos que me correspondiam em intensidade... e afinal...
Não me levem a mal. Não estou deprimida, nem chateada, nem de mal com a vida nem coisa que lhe valha. Nada disso. Isto é apenas uma reflexão. Quando reparo que tenho cuidados com as pessoas que elas não têm comigo. Quando vejo que era capaz de certos sacrifícios por algumas pessoas e que elas não o fazem por mim.
Um amigo meu dizia-me ontem que era uma besta. Que eu e ele éramos iguais. Que dizíamos o que queríamos e feríamos as pessoas à nossa volta sem nos importarmos. E que quem não gostasse.... Assusta-me que ele tenha razão. Não que hoje eu seja uma besta, mas já fui. Tenho consciência disso. Achava que a sinceridade era o único caminho e dizia sempre a verdade. Mas a verdadeira verdade, aquela mesmo verdadeira, é que a vida me tornou mais hipócrita. A verdade é que a vida me deu mais caras, mais máscaras.
No trabalho sou a conciliadora. Não digo o que penso quase nunca. Acho preferível isso a viver um ambiente de cortar à faca. Ainda assim, vejo que os meus colegas de trabalho não têm comigo o cuidado que eu tenho com eles. Entendam... eu não sou falsa... só não ponho lenha nas fogueiras... e respiro fundo 50 vezes antes de falar com alguém que me levantou a voz ou que disse uma barbaridade. Tento não ser uma besta e não lhes responder como merecem. E de vez em quando trago uns docinhos que deixo num prato ao pé da fotocopiadora... ou quando uma colega está triste, trago um ovo kinder para a animar... e quando eu estou triste? Quando eu estou mal? Quando eu preciso de atenção e que respirem fundo 50 vezes antes de falarem comigo?
As pessoas não dão na medida em que recebem. Nem eu. Estou farta de me sugarem as energias. Pelo que percebi sou boa ouvinte, dou bons conselhos, sou uma pessoa que toda a gente quer por perto quando está mal... e depois? Quando as suas vidas se resolvem, quando me sugaram todas as minhas boas energias.... nada é tão dramático como eu o pinto. A verdade é que sou demasiado intensa. E não posso passar a vida a pensar que o Mundo está mal e que só eu estou bem. Porque nunca é assim. Por isso, a solução é conhecermos as pessoas e só esperarmos delas o que elas nos podem dar. Nem mais nem menos. E pode ser que um dia tenhamos uma boa surpresa...
Quanto à vida... da vida continuo a esperar muito. Não abandono os meus sonhos. Não abandono as minhas expectativas de mim. Porque eu nunca me falhei.

14 comentários:

Kayla disse...

Só te digo...
Como te entendo.;)

Ianita disse...

Bem... pelo menos já não sou uma besta! :)

Kiss

Vera Angélico disse...

Ora bem... nem sei por onde começar...

Até sei. Não te tenho comentado, porque de vez em quando o pc lá me bloqueia as pop-ups, e não há quem lhe dê a volta.

Os últimos 28 anos da minha vida foram passados exactamente da mesma forma. Era disso que falava no último post que comentaste. Aquilo que dei de mim nos últimos tempos. O que recebi em troca. O quanto me sinto vazia, depois desse balanço. A facilidade que as pessoas têm em não nos dar o respectivo valor. Fosse eu uma pessoa positiva, e isto passava-me mais ou menos ao lado. Mas conheço-me bem...

Em relação a expectativas. Dizem-me sempre que sou demasiado exigente comigo e com os outros. Penso exactamente o mesmo de ti. Acho que essa é uma das características que nos torna especiais. Mas não deixa de ser um problema. Porque somos exigentes no trabalho, em casa, com os amigos, com os namorados e afins. E, infelizmente, nos tempos que correm, nem sempre as pessoas têm essa vontade. De se preocuparem. De terem em conta pequenos gestos que mudam tudo.

De qualquer forma, sofro muito menos de cada vez que decido esperar pouco de alguém.

E acho que abandonar os sonhos é abdicar da essência da vida...

Beijos.

Ianita disse...

Vera: eu estava com receio que fosses denunciar o que gravaste naquela famigerada K7, que eu ainda guardo :)

Tens razão... sofremos menos quando esperamos pouco, mas isso também não é maneira de viver, pois não? Será que não teremos direito a um bocadinho de intensidade? Eu queria...

Há uma cena do filme The breakup que eu adoro. O filme é morno, mas esta cena é bastante boa. Ela acusa-o de nunca lavar a louça. Ele diz que ela nunca lhe pediu que lavasse a louça e ela diz qualquer coisa como "I want you to want to do the dishes!" LOL

É que não vale a pena pedir a intensidade que queremos e merecemos. Nós queremos tê-la sem a pedir... queremos aquele pequeno gesto... queremos um mimo... queremos uma carta que não esperávamos... queremos uma prenda fora das datas oficiais... queremos um telefonema só porque sim... queremos que mudem planos por nossa causa... queremos tudo o que damos sem pedir nada em troca. E agora começo a parecer disléxica... mas sei que há por aí quem me entenda...

Começo a achar que se nos demos mal no passado foi porque se calhar somos mais parecidas do que queríamos admitir... com algumas nuances, mas parecidas.

Beijo

im disse...

"Achava que a sinceridade era o único caminho e dizia sempre a verdade. Mas a verdadeira verdade, aquela mesmo verdadeira, é que a vida me tornou mais hipócrita. A verdade é que a vida me deu mais caras, mais máscaras."

A verdade é que páro muitas vezes a pensar neste assunto...a verdade é que a vida vai-nos transformando e vamos adquirindo defesas que nos tornam menos nós próprios mas mais agradaveis para os outros e isso facilita-nos a vida...

beijos

Ianita disse...

Custa admitir, mas é assim... mas se sermos nós, se dizer a verdade faz de nós bestas... então eu também não quero...

Somos capazes de nos adaptar a diversos ambientes e é isso que fazemos ao longo da vida... adaptamo-nos... cedemos... para podermos viver.

Kisses

Lita disse...

Agora sou eu a dizer-te! Que bom que não te falhaste. Não te bastes! Sê a melhor versão de ti própria, mesmo que não gostem, mesmo que te pareça impróprio. Vales a pena!!!!

Ianita disse...

Valho? Então está na altura de outras pessoas que valem a pena me encontrarem... talvez...

Kisses

Mi disse...

Que interessante, teres postado sobre expectativas (tenho um post sobre o assunto algures na minha curta existência bloguística, não sei se o viste) e teres falado de sonhos (como o desafio que te deixei).

Beijinho!

Ianita disse...

Sim. Lembro-me bem do teu post. Comentei-o inclusivamente. :)

Quanto ao desafio... já vou ver!

Kisses :)

O Cigarrilha disse...

hoje ainda tenho ke vir cá ler este post com calma....

agora vou pra casa dormir:)

Abreijos e Saúde

Hélio disse...

Nao é facil ter personalidade, muito menos quando é uma personalidade que se quer rodear de paz... sê assim, lutadora, crente... tem Fé... as coisas virão..
Beijinhos :)

Ianita disse...

Cigarrilha... não sei se mereço :) eu sofro de verborreia aguda e normalmente não digo nada de jeito :)

Bom soninho!

Kisses

Ianita disse...

Hélio: mas custa, não custa? Dar e dar e dar... e a parte do comes back around nunca mais chega...

Eu sou paciente, já fui mais, mas sou... tenho pena de quem não cumpre, porque não sabem bem o que perdem... eu não sei ser má, mas sei ser muito muito muito boa. Basta um por favor ou um beicinho que me levam...

Kisses