16 de maio de 2009

Do caminho

Vejo-me a relembrar o genérico do Get Smart. Como se o meu caminho me levasse a um qualquer esconderijo e as portas que vou transpondo se fechassem definitivamente à minha passagem. Um caminho sem volta.

Todos os caminhos são assim. Não podemos jamais voltar atrás. Os caminhos preteridos fecham-se e escondem-se para sempre. Surgirão novos caminhos, novas possibilidades. Alguns deles até parecidos com os outros. Mas não são os mesmos. Jamais serão os mesmos porque nós jamais seremos os mesmos. Por isso, a cada passo, a cada escolha, pesa-me esta certeza. Pesa-me este som de porta a fechar-se. Pesa-me o olhar para trás e o sentir-me presa.

Pesa-me o peso da minha escolha. Como Fénix que carrega o elefante, eu carrego o peso dos meus dias, o peso das minhas cicatrizes, o peso das minhas derrotas e das minhas vitórias, o peso das minhas cinzas.

Desisto de olhar para trás. Carrego o passado comigo, faz parte do meu peso. Mas desisto de olhar para trás. Olho para os lados. Sinto as pessoas que caminham paralelas a mim. Sinto as pessoas que me fazem perpendicular ou uma oblíqua. Pessoas que cruzam o nosso caminho são pessoas que estarão pouco tempo na nossa vida. Como duas linhas que só se cruzam uma vez, por um momento, e que jamais se cruzarão outra vez. O difícil é perceber isto. De tanta gente que vemos perto de nós, distinguir as que me cruzam o caminho, das que me acompanham, paralelas a mim, para sempre.

Os cruzamentos de caminhos e pessoas trazem perigos. Podemos sentir-nos tentados a sairmos do nosso caminho e irmos com outra pessoa… mas não posso fazer outro caminho que não seja o meu. Por mais atraente que seja o outro caminho. Por mais luz ou mais sombra aquela pessoa me transmita. O meu caminho é único. Só eu o posso fazer. Só eu posso cair nele. Só eu posso cair e esfolar os joelhos e levantar-me e sacudir a poeira e sentar-me um pouco num banco que há ali do meu lado e seguir em frente.

Nas curvas da vida, vou avistar outros caminhos. Posso até pular para um deles e ver as vistas, ver como são as coisas. Fazer um bocado de companhia a quem o caminha. Mas eventualmente tenho de voltar ao meu caminho. Porque é este o caminho que tenho de fazer e não outro. Este tem os meus desafios, as minhas curvas, os meus precipícios, as minhas rectas, a minha paisagem, o meu ar, o meu vento, o meu sol e a minha chuva. Não é melhor nem pior que os outros. É o meu. E tem os caminhos paralelos que preciso e não outros. Tenho é que olhar bem à volta… para um lado e para o outro… com atenção… com os olhos da alma… e aí percebo quem está pronto para o viver comigo.

Estou cansada. Sinto-me fisicamente e psicologicamente cansada. Tantos cruzamentos. Tantos caminhos que não são meus. Tanto saltitar. Tantas coisas. Aproveito o máximo de quem me visita no meu caminho. Quem o cruza no percurso do seu caminho e segue viagem. Há sempre coisas a aprender. Mas agora quero só sentar-me no banco que há ali à frente. Não quero nem vou desistir. There’s no turning back. There’s no giving up. O caminho faz-se caminhando, passo a passo. Não me afligem as dores e as lágrimas que se avizinham. Não me aflige o que estará para além da curva. Aprendi a caminhar com o peso das minhas escolhas e sinto-me bem com isso. Mas agora… vou só descansar um bocadinho. Respirar fundo e olhar bem à minha volta.

10 comentários:

izzie disse...

Sei que agora vou parecer convencidita... mas este post parece-me a continuação das palavras de alguém...
Coincidência? Não?
Não interessa.
Fez-me sorrir.

Beijo,

João Viegas disse...

Antes de mais Ana; a foto tá sublime, dito isto: depois de ler o texto, fico com a sensação que vives no limite emocional. É uma atitude inteligente questionar, relacionar o que sentimos, com os outros, mas, cair no exagero de colocar em causa a nossa vida tal qual ela é, porque a queremos viver com sofreguidão. Não é por desejarmos muito, que as coisas aconteçam à nossa maneira, que elas acabam por acontecer;antes disso, precisamos de estar preparados para as receber.
Ao longo dos teus textos que fui lendo :) notei isso, essa insatisfação permanente, muitas vezes no regresso ao passado, que serviu para o crescimento actual, e, nada mais do que isso.
Com calma Ana...com calma. Desculpa esta "treta" algo paternalista, mas apeteceu-me dizer-te isto.beijo

P.S agradecido pelo teu comentário simpático no meu blogue.

tiago disse...

É verdade que nem sempre nos é fácil distinguir quais são as pessoas que cruzam as nossas vidas daquelas que seguem um caminho paralelo ao nosso. Mas tempos que ter a consciência que nem sempre aquelas que têm um caminho paralelo sãoa aquelas que nos fazem feliz, uma pessoa que se cruza epontâneamente pode-nos trazer a maior felicidade que possamos ter.
Não devemos tomar as nossas decisões em função das pessoas que seguem caminhos pararelos, pois em nada contribui para a nossa felicidad. Se alguém cruza o teu caminho pk não segui-la? o nosso camnho é traçado por nós e muitas vezes ´bom fazer-s um desvio nem que este seja temporariamente. Isto pode trazer momentos inesqueciveis, se nunca o fizeres podes ficar presa a comodidade que a vida nos traz...É uma aventura que pode ser marcante.

Li disse...

Alguém disse algo parecido com isto: a felicidade não está na meta mas sim em cada curva do caminho.
É verdade que só tu podes percorrer o teu caminho e só tu podes cair nele, mas o nosso caminho tem cruzamentos e entroncamentos e, quiçá, rotundas...podemos sempre mudar a direcção dele, virar à direita ou à esquerda, ou até, pelo menos eu assim penso, dar a volta à rotunda e voltar ao caminho por onde vínhamos para ir emendar alguma coisa ou até ir buscar algo ou alguém que ficou lá atrás. Há alturas em que ainda vamos a tempo de voltar, temporariamente, atrás e depois retomar o nosso caminho. Há outras alturas em que podemos parar por um pouco e aproveitar algo que ali está. E também, e aqui concordo com o coment anterior, podemos por vezes fazer um pequeno desvio, nem que seja só para aprender que o caminho onde estavamos era mesmo o mais certo, nem que seja só para tirar alguma dúvida. Tudo na vida tem um lado positivo, nem que seja uma pequena lição...por isso eu acho que cada paragem, cada desvio, cada recuo, mesmo que não seja aquilo que queremos, traz-nos sempre algo de positivo, algo com o qual aprendemos alguma coisa.

:)

bjitos

Ianita disse...

Izzie: falamos sempre das mesmas coisas... todos nós. Passamos a vida de roda dos mesmo assuntos, das mesmas palavras... Se te fez sorrir, ainda bem :)

Kiss

Ianita disse...

Joni: gostava muito de poder agradecer, mas eu sou defensora da verdade... e em abono da verdade só posso agradecer o facto de ter sido eu a escolher a foto, uma vez que não fui eu quem a tirou... :/

Eu sou sôfrega demais. Corro muito. Ando sempre de antenas no ar. Mas às vezes canso-me. Era só isso que eu queria dizer... eu gosto muito do meu caminho. Gosto de aprender e viver com as pessoas que me cruzam o caminho, mesmo que desapareçam pouco depois. Gosto muito de viver a sério. Sem medo de joelhos esfolados.

Porque, se já leste alguma coisa, sabes que eu tenho medo de tudo nesta vida. Excepto da vida.

E desculpo tudo o que venha por bem. E tens muita razão. Não podemos ser sôfregos todos os dias, sempre. De vez em quando faz bem ir em velocidade cruzeiro. De vez em quando faz bem parar um pouco para ver as vistas... e quem sabe se não há quem se sente ao nosso lado...

Kisses e obrigada

Ianita disse...

Tiago: tens toda a razão. Embora me custe dar tanto a quem me foge por entre os dedos... embora me custe ver pessoas entrarem no meu caminho e porem lixo no chão e escarrarem pro chão e chamarem-me nomes e seguirem viagem... embora me custe, não consigo ser diferente do que sou. Não consigo não continuar a dar tudo de mim. Não consigo deixar de sorrir, mesmo a quem não me sorri.

Sabes, noutro dia percebi que sorrio muito. E isso é muito bom :)

E sim, gosto de saltitar de caminho em caminho. Mas não vou mudar de caminho por causa de ninguém. Vou fazer o meu. :)

Kisses
(e benvindo... sou mesmo mal-educada... sorry)

Ianita disse...

Lilipat: encruzilhadas vamos ter sempre. E ainda bem :)

Mas não acho que possamos voltar atrás e emendar seja o que for. Porque quando supostamente voltamos atrás somos outros. Temos outra experiência. Não conseguimos voltar atrás sem sabermos o que sabemos hoje. E se voltamos a saber o mesmo, então a encruzilhada é nova e não a outra que tínhamos visto.

O caminho que fizemos não pode ser mudado. Os passos que demos não podem ser anulados. As palavras que proferimos não podem ser apagadas. Mas podemos aprender e podemos ser melhores na próxima encruzilhada. O caminho passado está feito, mas o futuro está em aberto.... e é tão bom!!

Não me assusta a vida. Não me assusta viver nem dar o meu máximo em tudo e a todos. Não me assustam as curvas, nem os joelhos esfolados e muito menos o coração partido.... mas sinto-me cansada. E vou só ali descansar um bocadinho. Entretanto retomo o caminho... :)

Beijos!

Rice Man disse...

Não acho que haja mal em olhar para trás (olhar, não tentar voltar). Aliás, temos uma ferramenta especialmente desenhada para isso mesmo... a memória. Sem termos que fisicamente voltar a cabeça para trás, podemos analisar o que fizemos anteriormente e usar essa informação adicional para tomar melhores decisões, encarando sempre o futuro de frente.
Embora possam ser representados assim (e eu próprio o faça), não creio que os caminhos sejam literalmente linhas rectas. É certo que a distância mais curta entre o sítio onde estamos agora e um hipotético objectivo seria uma linha recta mas, ao longo da vida, somos influenciados por toda uma série de factores/obstáculos que impedem que assim seja. O que interessa é o objectivo (para quem o tem) e até lá todas as formas geométricas são permitidas. E poderão até existir algumas paragens obrigatórias à partida mas geralmente grande parte do caminhos é desconhecida.
Existem de facto pessoas que fazem caminhos paralelos ao nosso. E algumas estão tão perto que se esticarem o braço conseguem tocar-nos e nós a elas... e que estão dispostas a esquecerem momentaneamente o seu próprio caminho para nos ajudarem a avançar no nosso, porque (talvez sem o saberem) essa é a sua maneira de avançarem, de serem felizes. Como disse anteriormente, grande parte do caminho é desconhecida. Como tal, não sabemos por onde vamos passar, com quem nos vamos cruzar, se vamos fazer o caminho todo sozinhos ou se vamos ter ajuda, se o nosso objectivo muda de posição durante o caminho ou se não descobrimos mesmo um objectivo melhor.
Não há mal nenhum em parar para descansar. Quanto mais não seja, é uma boa oportunidade para avaliar o que já foi feito e planear o que ainda falta fazer. Muitas vezes é durante uma dessas paragens que outras pessoas se cruzam connosco e nos oferecem ajuda. ;)

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Agora outro aspecto da coisa... Há pessoas que não têm objectivos, que simplesmente percorrem o caminho, lidando com as situações conforme elas aparecem. Podem, não tendo objectivo próprio, realizar-se ajudando outros a alcançarem os seus. E outras têm objectivos móveis, perseguindo-os sem nunca terem a certeza de os alcançarem, mas sabendo que têm de arriscar porque a alternativa é sempre pior.

Ianita disse...

Mr. Rice: sim... usei a analogia das linhas rectas, paralelas, oblíquas e afins apenas porque me pareceu que visualizava melhor o que eu queria dizer. Mas eu também falei em curvas ;)

Entendo o que me dizes e aceito. Só que eu sempre fui pessoa de objectivos definidos. Nem sempre os mesmos, foram mudando com a vida, mas sempre com objectivos. E ainda assim tentei andar em caminhos que não eram o meu. Aprendi muito nesse caminho, mas não era o meu e por isso o resultado não poderia ser bom. Como não foi.

Agora o que eu quero são as adversidades do meu caminho. O que eu quero é viver o meu caminho. E por mais q n deixe de olhar para o lado e esticar a mão a quem dela precisa, por mais que salte para outro caminho para ver as vistas, hoje sei que não posso abandonar o meu caminho. Por mais difícil que seja.

E não acho que olhemos para trás... acho sim que carregamos o peso das nossas experiências. O nosso passado faz parte de nós e por isso não precisamos olhar para trás. Basta olharmos para nós. Só que isso custa! :)

Kiss