Eu vivo na aldeia. Na aldeia temos vizinhos. Longe, depois de terrenos e estradas, mas vizinhos se calhar mais próximos que aqueles da cidade que vivem do outro lado da parede. Aqui não há vizinhos do outro lado da parede. Há vizinhos do lado de lá de terrenos, quintais, etc.
Conheço todos os meus vizinhos. Brinquei na rua com os filhos deles. Ia a casa deles quase todos os dias e eles vinham a minha casa. Partilhávamos brincadeiras, brinquedos, tropelias, a rua. Os vizinhos mais próximos ficavam do lado de lá de um olival. Um olival que era gigante e que agora já não é olival e também não é gigante. As traseiras das casas deles dão para o lado da minha casa. Porque as frentes das nossas casas dão para ruas diferentes, perpendiculares.
Hoje pouco falo com os meus vizinhos. Pouco os vejo. Vejo as minhas vizinhas de vez em quando, normalmente de manhã, antes de sair para o trabalho. Estou eu a abrir a garagem e já andam elas de volta das plantações que agora povoam o antigo olival. Falamo-nos sempre, cumprimentamo-nos. Ouço normalmente "Ai Ana, estás mais gorda" o que sabe sempre bem.
Morreu a Ti Catrina. Tinha 92 anos. Uma senhora que povoa a minha infância. Mãe de dois dos meus vizinhos, avó dos meus colegas de brincadeiras. Rija. Diziam que em nova gostava de emborcar copos. Ainda há pouco tempo a vi a cavar batatas. Rija.
Partiu uma perna. No Hospital apanhou pneumonia... o resto já sabem. Não me digam que já era velha, porque não era nada velha. Tinha imensa alegria de viver. E não há idade para deixarmos de gostar das pessoas. Não doi menos por terem determinada idade... Apesar de saber que as pessoas não ficam para semente, esta era uma das pessoas que parecia imortal. Era rija.
Um bem haja Ti Catrina.
Conheço todos os meus vizinhos. Brinquei na rua com os filhos deles. Ia a casa deles quase todos os dias e eles vinham a minha casa. Partilhávamos brincadeiras, brinquedos, tropelias, a rua. Os vizinhos mais próximos ficavam do lado de lá de um olival. Um olival que era gigante e que agora já não é olival e também não é gigante. As traseiras das casas deles dão para o lado da minha casa. Porque as frentes das nossas casas dão para ruas diferentes, perpendiculares.
Hoje pouco falo com os meus vizinhos. Pouco os vejo. Vejo as minhas vizinhas de vez em quando, normalmente de manhã, antes de sair para o trabalho. Estou eu a abrir a garagem e já andam elas de volta das plantações que agora povoam o antigo olival. Falamo-nos sempre, cumprimentamo-nos. Ouço normalmente "Ai Ana, estás mais gorda" o que sabe sempre bem.
Morreu a Ti Catrina. Tinha 92 anos. Uma senhora que povoa a minha infância. Mãe de dois dos meus vizinhos, avó dos meus colegas de brincadeiras. Rija. Diziam que em nova gostava de emborcar copos. Ainda há pouco tempo a vi a cavar batatas. Rija.
Partiu uma perna. No Hospital apanhou pneumonia... o resto já sabem. Não me digam que já era velha, porque não era nada velha. Tinha imensa alegria de viver. E não há idade para deixarmos de gostar das pessoas. Não doi menos por terem determinada idade... Apesar de saber que as pessoas não ficam para semente, esta era uma das pessoas que parecia imortal. Era rija.
Um bem haja Ti Catrina.
12 comentários:
Uma pessoa vem ao teu blog e é isto... tenho de me controlar para não chorar, acho mal! Mas o texto/homenagem está lindo!
As pessoas que trabalham no campo todas as suas vidas geralmente são assim, rijas. Têm de o ser. Como se costuma dizer "A vida é dura para quem é mole." e isso será ainda mais verdade para quem vive da terra.
Na terra dos meus pais também é assim, toda a gente conhece toda a gente, nunca morre um desconhecido. Mesmo que não se conviva com essa pessoa ela é sempre o filho de, a mulher do, o Zé dali, a Ti dalém, etc., etc,... E por muito pouco que isso às vezes possa ser, no mínimo acabamos sempre por ficar com aquela sensação que o grupo ou a comunidade estão mais pequenos.
Um bem haja para ela.
isso da vizinhança mudou mesmo mt... tb eu brincava k todos e agora perdi-lhes o rasto. e os miúdos tb já não vèm brincar pa rua... mudou td... *
Será que o segredo está no 'emborcar copos'? :)
A vida é isto mesmo, nascemos para termos um fim. Por isso há que aproveitar enquanto cá andamos, mesmo a emborcar uns copos.
VG: estranhamente não me emocionei... foi mais um vazio...
Rice Man: nem todas as pessoas da aldeia são rijas... mas normalmente as mulheres de aldeia são rijas. Resultado de uma vida demasiado dura.
Isandes: podes crer... está tudo mudado...
Sayuri: eu gostava! :D
Luísa: precisamente... precisamente....
Bonita homenagem....gostei do que escreveste...
E concordo com o que dizes...embora não viva na aldeia..vou algumas vezes e realmente a aproximação com os vizinhos é muito diferente das grandes cidades......
Beijos e boa semana
Um beijinho para a Ti Catrina*
Também vivo na 'aldeia' (embora isto já seja uma vila), mas percebo o que escreves!
Acho que nunca nos habituamos à ideia de ver partir alguém, seja da nossa família, sejam meros conhecidos. E aquilo que nós vemos hoje, parece que irá durar para sempre. Pois, parece!
Beijinhos
Maria: mesmo não conhecendo, conhecemos as pessoas, entendes?
Iandu: esteja onde estiver...
LP: ela era mesmo uma daquelas pessoas que pareciam imortais...
eu também vivo no campo e se há coisa que gosto é conhecer os meus vizinhos e falar com eles. vivi em lisboa e ia dando em doida, não sabia o nome de ninguém, as pessoas não se juntavam nos elevadores, o carteiro não podia deixar encomendas na vizinha do lado.
talvez porque estivesse mal habituada, na terra onde cresci sempre que lá vou as minhas vizinhas dizem que andaram comigo ao colo e eu cresci tanto :D
dina: vivi em Queluz 1 ano... a senhora da portaria do prédio estava sempre a regar as plantas quando eu saía para o trabalho. Todos os dias lhe dizia bom dia, todos os dias ela não me respondia...
As minhas vizinhas também me dizem que cresci... prós lados! :)
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