Farta.
Farta das hipocrisias. Dos sorrisos falsos. Das palavras falsas. Das palavras de inveja e de desdém. Das palavras de superioridade.
Não admito. Ando muito inflexível, não é? Não admito muitas coisas. Mas hoje admiti que o ninfeto a quem chamam padre chamasse a minha avó por um nome que não é o dela. E admiti que um neto da minha avó me dissesse "ri-te um bocadinho... por que é que estás com essa cara?". E admiti que uma filha da minha avó me cumprimentasse e dissesse "então, estás boa?".
Não, não estou boa. Não, não vou estar boa. E não estou preparada para o que vem a seguir. Para as disputas. Para as guerras. Para a discussão por meia dúzia de metros de terra. E vou-me chatear. Vou-me chatear a sério.
Como decidi que não vou mais admitir pessoas que acham que me conhecem, quando não me conhecem de lado nenhum, me digam o que devo fazer com a minha vida... que digam que estou mal ou que estou bem ou que tenho evoluído muito ou o raio que o parta. Não admito que pessoas que não me conhecem de parte nenhuma critiquem as minhas escolhas e os meus caminhos. Que me falem em tom paternalista e condescendente como se tivessem todas as respostas e eu fosse burra.
Não esquecer que quando apontamos o dedo a uma pessoa, temos três apontados a nós mesmos. Não esquecer que podemos e devemos ajudar os outros, mas nunca com críticas e com juízos de valor, principalmente se não conhecemos a pessoa.
Cada pessoa é única. Cada pessoa é um ser único e irrepetível. Por isso, as soluções de uns não são as dos outros. Não temos todos de encaixar no mesmo modelo. Não temos todos de seguir as mesmas crenças, as mesmas ideologias, as mesmas formas de ver a vida e os problemas, os mesmos caminhos...
O Nandinho Pessoa tinha um poema em que dizia que não queria ser de companhia... e que era uma chatice que o tentassem sempre puxar para um lado ou para o outro. As pessoas à nossa volta podem sugerir, opinar, aconselhar. Mas não têm o direito de julgar nem de forçar pontos de vista. Muito menos de nos fazer sentir "burros" porque não vemos a "verdade". Verdades há muitas. E mudam todos os dias e a todas as horas. E, em última análise, cada um tem a sua verdade.
Estou muito pouco tolerante. É verdade. Estou muito drogada. É verdade. Mas uma das coisas que aprendi com a minha avó foi a não fazer fretes e a não esconder o que sinto. Por isso... em homenagem a ela. Acabaram-se os fretes.
Vou dizer o que penso quando o penso. E a verdade é que quem diz o que quer sujeita-se a ouvir o que não quer, n'est pas?
Adoro conversar. Adoro partilhar opiniões. Adoro discutir ideias. Gosto de partilhar experiências. Mas nunca com juízos de valor. Jamais com juízos de valos. Porque cada um sabe das suas guerras. Cada um sabe da importância e do valor das guerras que tem de travar todos os dias. E não há ninguém que tenha o direito de dizer que essas guerras não são legítimas, ou dignas.
Abriu oficialmente a época de caça aos abutres e aos amigos da onça. Ou vendedores da banha da cobra, dá no mesmo.
10 comentários:
Já sabes que estou aqui, quando precisares liga.
BJ
Rony: eu sei... mas estou irritada com certas pessoas da família, como bem sabes. E não estou com pachorra para algumas pessoas. E espero que essas pessoas tenham o bom senso de nem me falarem... e se escrevi este texto foi porque já não consiguia abrir o blog e ver a foto da minha avó sem chorar automaticamente... e porque só queria ter um fdp de um interruptor e desligar as lágrimas e a dor.
É nestas alturas que percebemos quem realmente está connosco. Quem gosta de nós. Quem nos quer bem.
Nunca tive dúvidas que estarias por mim, como estás. Obrigada.
É por essas e por outras que não falo com metade da minha família e prezo muito mais os laços de amizade que os familiares.
Beijo enorme
Minha querida,
Sei, calculo, a dor que sentes, porque me chegaste a falar da tua avó, com um fervor que deu para perceber o quanto a amavas, e amas. Felizmente, que existem netas, filhas, irmãs, tias como tu.
Quanto ás questiúnculas de família, acredita que existem em todas, e como tens a fibra da tua avó, vais-te sair bem da situação.
Um abraço, muito amigo
Luisa
Ni: dizerem-me no funeral da minha avó "por que é que estás com essa cara? ri-te um bocadinho"... de um primo... supostamente tão neto quanto eu. Vamos ver agora...
Luísa: a minha avó era a melhor pessoa que eu conheci. A mais corajosa. A mais aventureira. A mais alegre. A mais feliz. A mais amorosa. A mais tudo... a mais tudo.
Obrigada pelas palavras e pelo carinho.
Beijos
Um beijo, carinho para ti.
Sei do que falas porque também já o vivi e não há um dia em que passe e que não sinta saudades da minha avó... Tento pensar que ela continua viva dentro de mim cada vez que penso nela...
Quanto a essas frases e atitudes menos dignas que tens presenciado não ligues... é triste mas acho que todas as famílias tem gente assim... mas se te ajuda liberta a tua raiva nem que seja aqui no blog, as vezes desabafar aquilo que nós irrita pode ajudar-nos a ir em frente...
Um beijinho grande e força!
Um beijinhos de muita força Ianita
e quando quiseres espairecer e vir visitar Aveiro... :)
Quetzal: a dor não esmorece nunca... só vamos aprendendo a lidar com ela... a conviver com ela... acreditemos que estão a velar por nós. Acreditemos.
LP: temos mesmo de combinar isso. Quando passar este tempo parvo. :) Obrigada, querida.
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