5 de janeiro de 2010

Um tempo que passou

A vida não volta atrás. Não valem de nada os arrependimentos. Valerão para fazermos diferente de agora em diante. Para não repetirmos asneiras. Mas os arrependimentos não mudam o que foi. O que foi passou e não volta mais.

O tempo é invencível. Eterno. Implacável. Não volta jamais. Não acelera nem trava. É sempre o mesmo. Mas o tempo é de quem o quiser... será mais ou menos, dependendo do que dele fazemos.

E o que eu quero é um tempo cheio. Uma vida cheia de coisas para me orgulhar e para me arrepender. Uma vida cheia de experiências. Uma vida cheia de caminhos sinuosos... de curvas apertadas... de sustos... de medos... de precauções... e de tiro no escuro... salto no abismo... trapézio sem rede... esperança... sentimento. E o tempo é hoje.

E o olhar para trás e sorrir... esse sorriso vale tudo. Esse sentimento de dever cumprido. Esse sentimento de "fiz tudo o que havia a fazer" ou "vivi tudo o que havia a viver" ou "sofri de car*****, mas fui muito feliz" ou "valeu a pena". Esses sentimentos fazem uma vida. Esses momentos fazem uma vida. Esse tempo faz uma vida.

Uma música perfeita. Um poema perfeito. Cantado por duas vozes perfeitas... da velha geração, Sérgio Godinho. Da nova geração, David Fonseca.




Vou
uma vez mais
correr atrás
de todo o meu tempo perdido
quem sabe, está guardado
num relógio escondido por quem
nem avalia o tempo que tem

Ou
alguém o achou
examinou
julgou um tempo sem sentido
quem sabe, foi usado
e está arrependido o ladrão
que andou vivendo com meu quinhão

Ou dorme num arquivo
um pedaço de vida
a vida, a vida, a vida que eu não gozei
eu não respirei
eu não existia

Mas eu estava vivo
vivo, vivo, vivo
o tempo escorreu
o tempo era meu
e apenas queria
haver de volta
cada minuto que passou sem mim


Sim
encontro enfim
iguais a mim
outras pessoas aturdidas
descubro que são muitas
as horas dessas vidas que estão
talvez postas em grande leilão

São
mais de um milhão
uma legião
um carrilhão de horas vivas
quem sabe, dobram juntas
as dores colectivas, quiçá
no canto mais pungente que há

ou dançam numa torre
as nossas sobrevidas
vidas, vidas
a se encantar
a se combinar
em vidas futuras

Enquanto o vinho corre, corre, corre
morrem de rir
mas morrem de rir
naquelas alturas
pois sabem que não volta jamais
um tempo que passou

5 comentários:

LP disse...

Eu não gosto de me arrepender (não é que às vezes isso não me ocorra nos pensamentos) mas tudo o que fiz, bom ou mal, serviu para quem sou hoje. E estou bem com isso.

A música encaixou muito bem com o texto, ou o texto foi perfeito para a música. Mas está muito bonito!

(Adoro o óculos do David, adoro mesmo!)

(agora está a dar Anatomia, lá vou eu!!)

Beijinhos

Ianita disse...

LP: não me arrependo de nada do que fiz. Porque tudo o que fiz foi em consciência de que estava a fazer o melhor que sabia e conseguia. Posso saber hoje que poderia ter feito diferente, mas na altura não o sabia.

Os arrependimentos que tenho são referentes a este tempo vazio de que fala a música... os tempos mortos... os tempos sem tempo... os tempos sem vida... os tempos de sobrevida.

És mais nova do que eu, mas eu sou ainda muito nova também. E o que mais me custa é ver esses tempos perdidos do passado... e espero não fazer deste presente que vivo mais um desses tempos mortos de que me vou arrepender no futuro. Entendes? As coisas acontecem... sucedem-se... e uma pessoa anda a tentar manter-se à tona... com as mesmas bolas no malabarismo, a tentar que nenhuma caia... e a vida vai passando ao nosso lado. E o tempo em vez de vivido é sobrevivido.

O tempo vivido recordo-o com um sorriso e sem arrependimentos. Os arrependimentos vão para o tempo apenas sobrevivido... como o de hoje.

Beijos e que saibas sempre viver mais do que sobreviver.

(eu adoro o David de todas as maneiras... e assim em português até parece mais real...)

Rony disse...

A música é linda, é a "cara" do sérgio Godinho. E o David está muito bem, como sempre :)

Luisa disse...

Muito bonita a canção e as duas vozes "casam" na perfeição.

Beijinhos

Luisa

Ianita disse...

Rony: não me canso de ouvir :)

Luísa: :)