28 de maio de 2010

Montanha-russa



Não gosto de montanhas-russas. Aliás, como não gosto de nada que seja potencialmente perigoso. E isso inclui escadas, escadas rolantes, elevadores, portas automáticas, portas normais, tesouras, facas, agulhas, cordas, fio, lenços, saltos altos, saltos rasos… e podia continuar, ad infinitum.

Não gosto pelo desconforto que me provocam. Arrepios na espinha e não são daqueles bons.

Mas, porque a vida é para ser vivida… lá ando eu a subir e descer escadas, sejam rolantes ou não. Lá ando eu acima e abaixo de elevador. Lá ando eu a mexer em tudo o que é preciso, independentemente do grau de desconforto que me provoca. Lá ando eu de saltos altos, muito altos, muito muito altos, e rasos também. E se for preciso entro numa montanha-russa. Como entro em aviões. E às vezes é preciso.

Não quer dizer que tenha mudado de ideias. Não quer dizer que me tenha habituado. Quer apenas dizer que nem sempre me apetece falar do assunto. E às vezes ainda acho que o melhor é mesmo fazer de conta que não existe. Animar-me com as coisas boas e ignorar as más. E subo à montanha-russa. E fico lá no alto a ver as pessoas pequeninas cá em baixo. E vejo as nuvens lá no alto. E sinto o vento na face. E sorrio. E rio. E gargalho. Pelo menos aparentemente. Porque o desconforto está lá. Está sempre lá. E de vez em quando manda um arrepio na espinha para me lembrar que está lá. E eu lembro. E sei. E sinto. Na maioria das vezes, continuo a rir, a sorrir… outras vezes deixo-me cair.

Tenho andado feliz. Basicamente feliz. Por nenhum motivo em especial e por todos em particular. Tenho estado no topo da montanha-russa. De bem comigo e com as minhas conquistas. A sentir-me linda e maravilhosa e fantástica e boa profissional e boa amiga e boa filha e boa irmã e boa tia e boa pessoa e boa tudo. Embora saiba que não sou nada disto. Sou demasiado falível. Comigo e com os outros. Mas tenho estado bem, lá em cima no topo da montanha-russa… até que desço. De repente. E assim como não tinha motivo para estar no topo, desci sem motivo também. E porque sim não é resposta. Não há respostas. Há factos. E o facto é que desci. E de repente sou a pessoa mais horrível e feia e gorda e incompetente e displicente com amigos e família e com os outros e comigo. Embora saiba que não sou nada disto. Sei que sou boa pessoa. Mas o facto é que desci.

E sim. Se desci a montanha-russa, o próximo passo será voltar a subir. É o normal. Mas sabem o que eu queria? Sair da montanha-russa e sentir-me normal. Seja isso o que for. Ou então poder aproveitar o alto da montanha-russa… sem o desconforto. Aproveitar em pleno. Apreciar a vista. E sentir cada sorriso. Verdadeiramente. E depois acho que não me incomodariam tanto as descidas…

2 comentários:

LP disse...

Aveiro é relativamente plana. Nem altos nem baixos, por isso aqui vais-te sentir bem, não vais ter esses problemas.

E além disso, já andámos a elaborar um guia para te surpreender! Ahah!

Entretanto já te mandei um mail! ;)

Beijinhos

Ianita disse...

LP: e eu respondi ;)

Beijos!