"esta é sobre ti
tem amor e ódio
é para ires ouvindo nestas horas d'ócio
ínfima parte de um sonho perdido
libertei-o, ja o tinha esquecido
é um sinal...
espero o momento na sombra da rua
ouço uma voz que me lembra a tua
passei pelo risco de sofrer
por não ler os teus sinais
é um sinal... para recomeçar...
quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera
leva-me as areias quentes
que me instigam os sentimentos
que me deixam nua perante os elementos
ensina-me a escavar objectos sem estragar
para que sorrir seja sempre vulgar
dá-me de beber, finas gotas desse mel
para que o meu saber não esteja só no papel
incita-me a lembrar
o teu gosto pelo mar
para que um dia fique pronta a zarpar
esperar que amanha tudo seja diferente...
e tu possas estar presente..."
Mesa
;) Quando se encontra um poema destes... A dualidade que vive em nós, que vive em mim. Ir-ficar, avançar-recuar, amor-ódio, submissa-fera. A vida não são meios-termos. A vida é isto. Eu sou isto...
4 comentários:
Como já dizia Catulo: "odi et amo"... As emoções ao extremo, ao contrário de Ricardo Reis...
Por isso é que não curto o Ricardo Reis. Eu quero viver tudo ao extremo, sentir tudo de todas as maneiras, quero viver. Quanto maior for o sofrimento, é porque muito maior foi a vida. Nunca tive medo de sofrer, porque nunca tive medo de me entregar. E não falo só de namoros, mas também de amizades. Eu entrego-me aos de quem gosto de corpo e alma, inteira, toda. Para o bem e para o mal...
Aparentemente! Ele não consegue cumprir o que apregoa e acaba por sofrer até mais do que os outros...
Sim... O enlacemos as mãos é flagrante. Mas em termos de sofrimento, penso que ninguém ganha a ninguém. Cada heterónimo encarna uma forma diferente de encarar a vida e o sofimento e nenhum consegue não sofrer. Talvez porque o sofrimento faz parte da vida e não existe isto de se ser inconsciente e ter a consciência disso. Em nenhuma das suas identidades, Pessoa conseguiu escapar ao sofrimento atroz de quem vive.
Mas se leres as cartas dele à Ofélia, vês que ele acaba por ser mais parecido com o Ricardo Reis, no enlacemos desenlacemos que lhe ocupou a vida toda. Entristece-me muito a trsiteza dele...
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