16 de junho de 2008

Esquecimento

"esta é sobre ti


tem amor e ódio


é para ires ouvindo nestas horas d'ócio


ínfima parte de um sonho perdido


libertei-o, ja o tinha esquecido


é um sinal...


espero o momento na sombra da rua


ouço uma voz que me lembra a tua


passei pelo risco de sofrer


por não ler os teus sinais


é um sinal... para recomeçar...



quero ver gente, quero ver a terra


chegar a casa e ter alguém à espera


quero um presente, quero ser bera


quero ser submissa, quero ser a fera



leva-me as areias quentes


que me instigam os sentimentos


que me deixam nua perante os elementos


ensina-me a escavar objectos sem estragar


para que sorrir seja sempre vulgar


dá-me de beber, finas gotas desse mel


para que o meu saber não esteja só no papel


incita-me a lembrar


o teu gosto pelo mar


para que um dia fique pronta a zarpar


esperar que amanha tudo seja diferente...


e tu possas estar presente..."


Mesa

;) Quando se encontra um poema destes... A dualidade que vive em nós, que vive em mim. Ir-ficar, avançar-recuar, amor-ódio, submissa-fera. A vida não são meios-termos. A vida é isto. Eu sou isto...

4 comentários:

Rony disse...

Como já dizia Catulo: "odi et amo"... As emoções ao extremo, ao contrário de Ricardo Reis...

Ianita disse...

Por isso é que não curto o Ricardo Reis. Eu quero viver tudo ao extremo, sentir tudo de todas as maneiras, quero viver. Quanto maior for o sofrimento, é porque muito maior foi a vida. Nunca tive medo de sofrer, porque nunca tive medo de me entregar. E não falo só de namoros, mas também de amizades. Eu entrego-me aos de quem gosto de corpo e alma, inteira, toda. Para o bem e para o mal...

Rony disse...

Aparentemente! Ele não consegue cumprir o que apregoa e acaba por sofrer até mais do que os outros...

Ianita disse...

Sim... O enlacemos as mãos é flagrante. Mas em termos de sofrimento, penso que ninguém ganha a ninguém. Cada heterónimo encarna uma forma diferente de encarar a vida e o sofimento e nenhum consegue não sofrer. Talvez porque o sofrimento faz parte da vida e não existe isto de se ser inconsciente e ter a consciência disso. Em nenhuma das suas identidades, Pessoa conseguiu escapar ao sofrimento atroz de quem vive.
Mas se leres as cartas dele à Ofélia, vês que ele acaba por ser mais parecido com o Ricardo Reis, no enlacemos desenlacemos que lhe ocupou a vida toda. Entristece-me muito a trsiteza dele...