19 de dezembro de 2008

Tempo

O tempo passa. Facto incontornável. Não podemos pará-lo. Não podemos contorná-lo, passar-lhe ao lado, mudar de tempo... O tempo é inexorável, não perdoa e não pára nunca.
Mas a acepção que temos do tempo não é a mesma. Um minuto demora muito ou demora pouco, dependendo esse muito e esse pouco da ansiedade com que aguardamos essa passagem. O tempo muda de pessoa para pessoa, embora, efectivamente, o tempo seja sempre o mesmo.
Habituamo-nos a medir a nossa vida em anos, meses, dias, em horas e muito raramente em minutos... só quando estamos atrasados para o trabalho, ou quando não apanhamos o último metro, ou quando falhámos o início de qualquer coisa que tinha hora e minutos marcados. Mas, no dia-a-dia normal, medimos a nossa vida em horas, dias e meses e anos.
E os segundos? Os segundos não contam... a maioria dos relógios já nem os mostra. Num segundo não fazemos nada, não pensamos nada, não alcançamos nada. Um segundo não é nada na imensidão de segundos que demora a nossa vida. E o comum dos mortais não pensa neles, nos segundos, e eles continuam a passar, indiferentes à nossa indiferença...
O segundo olímpico. O segundo olímpico demora uma eternidade a passar. Parece que naquele segundo tudo se passa, tudo acontece, tudo se pensa, tudo se teme, tudo se alcança. Naquele segundo, que noutros dias e noutros tempos não conta para nada. O segundo olímpico é vivido com expectativa, com emoção, e demora uma eternidade a passar.
Claro que não espero que vivamos as nossas vidas na expectativa de cada segundo. Se viver na expectativa dos dias já custa, já dói, já cansa, viver na expectativa dos segundos é de loucos, eu sei. Mas devíamos ter nas nossas vidas alguns momentos em que vivêssemos na expectativa de cada segundo. Vivendo cada segundo como o segundo olímpico. Como quando esperamos a reacção da outra pessoa a um "amo-te", como quando esperamos que dispa aquela última peça de roupa, como quando esperamos a resposta a uma mensagem mais atrevida, mais reveladora, como quando arriscamos e não sabemos o que vai acontecer... aquele segundo de antecipação, de medo, de risco, aquele segundo de queda livre... aquele segundo que demora uma eternidade... o segundo olímpico....
É por isso que eu anseio. Dizia a Addison ao Pete, na 3ª feira, "I don't do fun. I don't want fun, and people should get what they want". Pelo menos podemos ansear por mais, e temos esse direito. Eu quero a metáfora toda. Quero o céu de Katmandu e quero poder viver, pelo menos uma vez, o segundo olímpico.

13 comentários:

Lita disse...

Há uma história do maravilhoso Jorge Bucay, em que um homem chega a um cemitério e vê em todas as lápides, por baixo dos nomes, tempos tão pequenos que começa a chorar pensando estar num cemitério de crianças. Mais tarde, outro homem explica-lhe que naquela terra não contam-se os tempos de vida pelos momentos que em as pessoas foram felizes. Acho que o tempo interno é isso. Aquilo que conta. Bj

Ianita disse...

Nem mais... e agora que me falas nisso começo a pensar no meu número... o que constaria por baixo do meu nome... e a resposta não me agrada...

Kiss

Lita disse...

Ui, o meu comentário foi escrito numa linguagem estranha... lol!
Retirar o "não" de "não contam-se os tempos de vida...", por favor!

Obrigada!
;)

M disse...

Eu já vivi alguns segundos olímpicos, e tu também , com toda a certeza! Mas porque "tudo é efémero menos nós" - citação de uma amiga após uma noitada de copos - não nos lembramos da maior parte deles...

Ianita disse...

Eu entendi :)

As nossas mãos às vezes parecem ter vontade própria e escrevem coisas que não queremos, ou de uma forma que não queremos! :)

Kiss

Ianita disse...

Eu lembro-me de alguns... a sério que sim! Mas o que me parece é que, à medida que os anos vão passando, vamos tendo menos tempo para os segundos olímpicos... e eu quero segundos olímpicos outra vez! É só isso... apenas e só... mas parece que estes "apenas", o "só" são demais. Se calhar estou a pôr a barreira demasiado alta....

Kiss

M. disse...

Bom fim de semana, querida*

TolicesOC disse...

O segundo Olímpico...
... como em tudo na vida, e mais uma vez, depende da perspectiva!

Tu dizes que demora uma eternidade a passar... não, eu não concordo...
...quando estou a olhar para o cronómetro, e a minha Sara a nadar... ela a uns metros da parede... desejo que o cronómetro pare... aqueles segundos passam à velocidade da luz!

Para ela que está "em cena", não sei como é que passam os segundos...
Se ela passar por aqui, pode ser que nos diga!

Beijinhos,

Ianita disse...

Mascote: Obrigada. Bom fim-de-semana!

Olga: Dizia mais no sentido que, num único segundo podem estar concentrados vários atletas. Perder ou ganhar, nesses casos, está à distâncias de milésimas, de centésimas e não de segundos. Um segundo é muito tempo... e a espectativa... aqueles segundos que demoram a mostrarem os resultados no placard... são segundos que demoram horas... a apreensão... saber que tempo s fez, se fizemos bem as voltas, se não fomos desclassificados...

São, pelo menos, segundos que demoram mais que os nosso reles segundos...

Kisses

TolicesOC disse...

Eu percebi, mana, perfeitamente!
Só quis deixar aqui outra perspectiva!
Há sempre várias, tu sabes...


Beijinhos

Ianita disse...

Eu sei... mas nós só temos a nossa... e custa ver pelos olhos de outra pessoa, isto para não dizer que é impossível...

Beijo

u João disse...

Olá! Não resisti:
"O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que tem medo
Muito longo para os que lamentam
Muito curto para os que festejam
Mas, para os que amam, o tempo é eterno."
William Shakespeare
com isto quero dizer; o que importa é viver o momento :)

Ianita disse...

Carpe diem clássico de que nunca gostei muito, confesso. Não que eu não seja de viver o momento, mas é que depois lixo-me sempre LOL :)

Eles gostavam de um carpe diem moderado e eu de moderada não tenho nada! Ou é tudo ou não é nada e isso é intenso demais para as pessoas aturarem!

Não me entendam mal. Eu não acredito em relações para a vida inteira, mesmo em amizades. Mas gosto de pensar na eternidade enquanto dura. Aquela relação tem de ser verdadeira, única e intensa nem que seja por um mês. Entendes? E esse mês é de entrega total e absoluta... o que acaba por ser desgastante... para mim que saio das relações esgotada emocionalmente... e para os outros, que não sabem bem como responder à minha intensidade.

Já estou a ir por caminhos que não queria, mas a verdade não deixa de ser esta...

Adorei o poema que citaste. É isso mesmo. O tempo é sempre o mesmo, nós é que mudamos e ele muda connosco!

Kisses :)