A minha infância foi, sei-o hoje, uma infância feliz. Olho-a com uns olhos como os do Pessoa... era bom que tivesse tido a consciência da sorte que tinha e poderia ter aproveitado mais... ser inconsciente e ter a consciência disso.
Não tinha. Aproveitei o que consegui. Lembro-me que passava a vida à guerra com o meu irmão. E lembro-me muitas vezes de ser apanhada a fazer asneira e de dizer "mas o Vasco também fez!" ou então denunciava uma qualquer outra coisa que ele tivesse feito numa tentativa de amenizar o meu castigo. O que a minha mãe me respondia era sempre o mesmo. E acreditem que ouvi isto centenas de vezes "Se o teu irmão for para dentro de um poço vais atrás dele?". E o castigo vinha como tinha de vir... sem desculpas.
Acho que os ditados populares têm muita sabedoria... lembro-me de uma vez ter tido de fazer um levantamento de 100 ditados populares para a escola. Escola Primária e não, não havia computador e muito menos Internet. Mas... posso saber muitos, mas os que me ficaram retidos na memória foram os que ouvi os meus pais dizerem over and over and over again.
E por mais fãs que os meus pais fossem, e sejam, dos ditados populares, nunca, mas nunca me disseram um "olho por olho, dente por dente". Nunca foi esse o ensinamento lá em casa. Nunca ouvi nenhum dos meus pais dizerem isto. Penso que não acreditam nisto. Uma versão portuguesa do "all is fair in love and war". E não é de facto.... não vale tudo. Os fins não justificam os meios...
Os meus pais têm o que têm à sua própria custa. Sem nunca terem pisado ninguém para estarem onde estão e para terem a qualidade de vida que têm. Sempre me disseram o famoso "não faças aos outros o que não queres que te façam a ti". Sempre me perguntaram "se ele for para dentro do poço, tu vais atrás?".
Na vida não vale tudo. Somos seres humanos... claro que somos animais... mas pensamos. Temos discernimento. E devemos respeito a quem connosco coabita. Outros humanos, animais, ambiente, Universo... tudo o que nos rodeia merece o nosso respeito. E por mais que eu queira amar alguém, não tenho o direito de passar por cima dos sentimentos de outras pessoas para o conseguir. Por mais que eu queira ter um trabalho melhor, não tenho o direito de passar por cima de colegas de trabalho e afins. Claro que não podemos passar pela vida sem magoar pessoas... é praticamente impossível. Mas podemos tentar agir com respeito e verdade e a dor que causamos será muito menor e temporária.
E a verdade é que se o meu irmão fosse para dentro de um poço eu não ia atrás dele. A verdade é que os meus pais me ensinaram, muito à maneira deles, mas ensinaram, que não é por uma pessoa agir mal que eu posso agir mal também. Se alguém age mal, é problema dessa pessoa e da sua consciência. Sou eu quem tem de viver comigo. Eu tenho de viver com a minha consciência... não é por outras pessoas matarem, que eu posso matar... não é por outras pessoas roubarem, que eu posso roubar... não é por outras pessoas serem más, que eu posso ser má. Nada o justifica porque eu tenho o discernimento, eu tenho a capacidade de escolha. E tenho a responsabilidade dessa escolha... que não posso incutir a outra pessoa.
E não posso dizer como dizia tantas vezes "foi ele que começou!". Ao que a minha mãe respondia "ele começou e tu acabaste" e lá vinha o castigo.
Para mim nunca vai ser "olho por olho, dente por dente"... Em todas as situações em que me apetece responder na mesma moeda penso nas palavras da minha mãe "se ele for para dentro de um poço, tu também vais?"... sorrio e sigo o meu caminho. Custa, mas sigo o meu caminho.
E vocês? Iam para dentro do poço?
Não tinha. Aproveitei o que consegui. Lembro-me que passava a vida à guerra com o meu irmão. E lembro-me muitas vezes de ser apanhada a fazer asneira e de dizer "mas o Vasco também fez!" ou então denunciava uma qualquer outra coisa que ele tivesse feito numa tentativa de amenizar o meu castigo. O que a minha mãe me respondia era sempre o mesmo. E acreditem que ouvi isto centenas de vezes "Se o teu irmão for para dentro de um poço vais atrás dele?". E o castigo vinha como tinha de vir... sem desculpas.
Acho que os ditados populares têm muita sabedoria... lembro-me de uma vez ter tido de fazer um levantamento de 100 ditados populares para a escola. Escola Primária e não, não havia computador e muito menos Internet. Mas... posso saber muitos, mas os que me ficaram retidos na memória foram os que ouvi os meus pais dizerem over and over and over again.
E por mais fãs que os meus pais fossem, e sejam, dos ditados populares, nunca, mas nunca me disseram um "olho por olho, dente por dente". Nunca foi esse o ensinamento lá em casa. Nunca ouvi nenhum dos meus pais dizerem isto. Penso que não acreditam nisto. Uma versão portuguesa do "all is fair in love and war". E não é de facto.... não vale tudo. Os fins não justificam os meios...
Os meus pais têm o que têm à sua própria custa. Sem nunca terem pisado ninguém para estarem onde estão e para terem a qualidade de vida que têm. Sempre me disseram o famoso "não faças aos outros o que não queres que te façam a ti". Sempre me perguntaram "se ele for para dentro do poço, tu vais atrás?".
Na vida não vale tudo. Somos seres humanos... claro que somos animais... mas pensamos. Temos discernimento. E devemos respeito a quem connosco coabita. Outros humanos, animais, ambiente, Universo... tudo o que nos rodeia merece o nosso respeito. E por mais que eu queira amar alguém, não tenho o direito de passar por cima dos sentimentos de outras pessoas para o conseguir. Por mais que eu queira ter um trabalho melhor, não tenho o direito de passar por cima de colegas de trabalho e afins. Claro que não podemos passar pela vida sem magoar pessoas... é praticamente impossível. Mas podemos tentar agir com respeito e verdade e a dor que causamos será muito menor e temporária.
E a verdade é que se o meu irmão fosse para dentro de um poço eu não ia atrás dele. A verdade é que os meus pais me ensinaram, muito à maneira deles, mas ensinaram, que não é por uma pessoa agir mal que eu posso agir mal também. Se alguém age mal, é problema dessa pessoa e da sua consciência. Sou eu quem tem de viver comigo. Eu tenho de viver com a minha consciência... não é por outras pessoas matarem, que eu posso matar... não é por outras pessoas roubarem, que eu posso roubar... não é por outras pessoas serem más, que eu posso ser má. Nada o justifica porque eu tenho o discernimento, eu tenho a capacidade de escolha. E tenho a responsabilidade dessa escolha... que não posso incutir a outra pessoa.
E não posso dizer como dizia tantas vezes "foi ele que começou!". Ao que a minha mãe respondia "ele começou e tu acabaste" e lá vinha o castigo.
Para mim nunca vai ser "olho por olho, dente por dente"... Em todas as situações em que me apetece responder na mesma moeda penso nas palavras da minha mãe "se ele for para dentro de um poço, tu também vais?"... sorrio e sigo o meu caminho. Custa, mas sigo o meu caminho.
E vocês? Iam para dentro do poço?
22 comentários:
Gostei muito do que li. Sem dúvida que uma infância é muito mais feliz com um irmão/irmã ao lado, tive essa sorte, felizmente!
Às vezes, muitas, é mais fácil caminhar sabendo que se tem alguém ao lado, e se cometermos as mesmas asneiras, o castigo será igual, logo mais fácil de ultrapassar!
Talvez essa ainda seja uma das coisas que tenho que aprender, o tal 'self made man', em que me tenho de bastar a mim própria!
E respondendo à tua pergunta, eu nem me chegava perto do poço pois a minha mãe dizia que estava lá o diabo! E o medo que eu tinha de tal personagem! ;)
Beijinhos
LP: Bem... é aqui que a vaca tosse... os castigos nunca foram iguais porque o meu irmão sempre se safou mais que eu...
Mas pronto... isso são outras conversas. Eu sei o que aprendi e estou feliz com isso.
Ainda bem que nunca te chegaste ao poço :) eu às vezes sinto-me tentada!
Beijinhos
Nunca tive um poço por perto...
:)
gostei do teu texto.
...adorei o que li...nós eramos 4..dois casais...e a minha mãe tb dizia essa frase do poço...:-)
"O mais importante da vida não é a situação em que estamos, mas a direção para a qual nos movemos." (Oliver Wendell Holmes)
:-)
Tinha tantos comentários para fazer sobre isto, que o raciocínio se perde facilmente. Mas de facto, fui educada exactamente da mesma forma. Como costumo dizer, com "valores"... e lá em casa também era assim. Guerra, dia sim, dia também com uma irmã com a idade demasiado próxima...
Mas adiante. Não sou tão pacífica. Não ia para o poço. Mas não consigo ficar calada. Sei que as pessoas que o fazem são menos ansiosas que eu. Sei que às vezes é muito mais difícil e tem muito mais nível não responder. Virar as costas e ignorar. Não faço questão de ter a última palavra, mas também não acho que as pessoas que nos fazem mal devam continuar impunes. Portanto defendo o tempo. Porque o tempo tudo cura, tudo resolve, e tudo dá a quem merece. Colhemos aquilo que semeamos. What goes around, comes around...
Noutro sentido. Nunca achei que os fins justificassem os meios. Infelizmente, ultimamente, tenho sido obrigada a viver dessa maneira. Não que o faça. Só que o "sofra". Porque quero, é certo. Porque acredito. Por isso, às vezes acabo por me sujeitar ao que não devia, e deixar os outros manipular-me. Ou dançar ao som da música que tocam. Tenho muita esperança. Que a vida me prove que o meu instinto estava certo. Tenho esperança em manter-me quieta e na sombra, a acreditar que no amor e na guerra não vale tudo. E por isso, um dia, vou ser compensada. Mas nem todas as culturas são como a nossa...
Acabas por ter toda a razão do mundo. Às vezes mais vale manter o "low profile". Engolir em seco. Respirar fundo, e contar até 10. Custa. Mas a longo termo, seremos concerteza mais felizes...
Ai Ai agora fiquei bastante deprimida...porque não sou irmã de LP e passei a infância com ela...e nem uma referencia a mim ;)
Ianita, não eu não iria para dentro do poço apenas porque alguém o fez antes. Isso supõe uma falta de vontade, falta de personalidade...e não faço nada porque vejo fazer...faço apenas o que acho ( e supõe sempre enganos) que devo fazer...posso até ir para o "poço" mas porque naquele momento tenho a "certeza" que o caminho passa por lá!
Quanto ao olho por olho dente por dente...depende das situações...depende do olho e do dente...depende...
Beijos e Bom fim-de-semana
Paulo: eu, sinceramente, também acho que não...
E isto até me lembra da célebre frase de um senhor do teu clube... "estava à beira do precipício e dei um passo em frente!" LOL :)
Beijinhos
Xabonas: custa muito... mas tem de ser assim...
Benvindo e Kisses
Vera: tu devias acreditar mais nisto... porque, para mim, tu és um desses exemplos... tu que foste uma adolescente mázinha e agora és uma mulher e amiga fantástica.
Lembro-me muito bem daquele dia no Arnal. E não foi fácil levar o estalo que levei da tua irmã e sorrir e virar costas. Mas fi-lo. Nunca retribuí... a vida mudou-te e fez-nos reencontrarmo-nos. Para eu ver que as pessoas podem mudar e para te mostrar também o quanto tu mudaste e o quanto tu consegues, se quiseres!
What goes around comes around e eu acredito mesmo nisso. Claro que muitas vezes discuto além do aconselhável... muitas vezes falo demais... muitas vezes prolongo as situações além do que deveria... mas há linhas que eu não transponho. Basicamente porque transpor essa linha seria transformar-me numa pessoa que eu não sou nem quero ser. por isso, engulo em seco e sigo em frente. Com as minhas certezas e as minhas verdades e deixo as pessoas com as certezas delas e as verdades delas... e pronto.
Não quero nem vou desgastar-me com o que não vale a pena. Não é esse o meu feitio. Não foi essa a minha educação. Não acredito no olho por olho, dente por dente. Não acredito que os fins justifiquem os meios... não acredito nisso.
E tu tem calma que tudo se resolve. Exactamente como disseste... pode não ser hoje... pode não ser amanhã... mas o Tempo é inexorável e tudo cura, tudo muda e tudo resolve.
Beijos
im: precisamente... até posso cair no poço, mas não por ir atrás de alguém... o que alguém faz não justifica o que eu faço. Não posso responsabilizar os outros pelas decisões que são minhas... se eu cair no poço a culpa é minha, a responsabilidade é minha. E a mim nunca me vão ouvir dizer "ele começou primeiro" nem "eu fui/fiz, mas ele também foi/fez".
Quanto ao olho por olho dente por dente... não acredito mesmo.
Beijos!
Nunca fui muito "Maria vai com as outras". Claro que todos temos aquela fase adolescente em que tentamos encaixar, mas isso é apenas um descobrir de nós mesmos. Graças à forma como fui educada, pude socializar com Gregos e Troianos e mesmo assim pensar (às vezes mal, é verdade...) pela minha cabeça.
Tudo isto para te dizer que encontro imensos pontos de semelhança cmg nesta tua forma de pensar.
Para mim os fins também não justificam os meios, e os meios têm que ser sempre fruto do meu esforço. Gosto de saber que lá cheguei pelo meu pé, sem "vítimas" pelo caminho. E gosto de lutar pelo que quero!
Mag: sim... sem vítimas e sem danos colaterais...
Fazer o caminho com verdade, honestidade e respeito. Mesmo pelas pessoas que não conhecemos. E assim se consegue viver sem pesos na consciência :)
Lutar sempre, mas cumprindo as regras! És cá das minhas!
Beijinhos!
Faço os possíveis por não ir para dentro do poço e, por vezes, quando vejo o que os outros fizeram lá dentro tenho nojo...nojo do lodo que ficou atolado no poço e onde me iria esfregar se lá tivesse entrado.
:)
bjs
Lilipat: é precisamente isso! Precisamente isso!
Beijinhos
Sinceramente... não me lembro de ter sido castigado quando era pequeno. De certeza que fui... mas não me lembro. :P
Mas acho que essa do "Se X for para dentro de um poço tu vais atrás dele?" vem em todos os manuais usados pelos pais. :) No fundo é apenas bom senso, são eles a ensinar-nos a pensarmos por nós próprios e a não seguir a manada só porque sim, porque queremos encaixar.
Também não acredito no "Olho por olho, dente por dente". Talvez a educação católica/cristã que tive me tenha influenciado mas o certo é que sou mais inclinado para o "Dar a outra face". Mas também não acredito que isso seja algo para usar em todas as ocasiões... Há alturas em que valores mais altos se levantam e temos mesmo de nos defender. O mais difícil é controlar aquele primeiro impulso de responder à letra mas ao fazê-lo, deixando passar algum tempo, vemos tudo de maneira diferente, tudo é analisado de uma forma mais racional e por consequência, resolvido melhor.
Também sou adepto do "Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti.". Na minha infância ouvi muitas vezes o famoso "Gostavas que te fizessem o mesmo a ti?"... e a resposta era sempre a mesma... não gostava. Agora posso dizer de consciência tranquila que pratico essa filosofia, mesmo quando não a recebo em troca. Aliás, é nas alturas em que não a praticam comigo que sabe melhor dá-la em troca.
Voltando ao poço... Podemos acabar por ir mesmo para dentro do poço e sermos felizes (afinal de contas a Alice seguiu o coelho pela toca e acho que não se arrependeu. :P) mas o importante é essa escolha ter sido feita por nós próprios, não por alguém que quer ou não saber de nós. Além disso, nós devemos mais a nós próprios. Tornamo-nos melhores pessoas de cada vez que sabemos que é errado seguir outra pessoa para o poço e não o fazemos. Somos mais felizes. :)
Mr. Rice: Nem tanto ao mar nem tanto à terra...
Sou uma pessoa combativa. Sempre fui. Sou carneira. Detesto não ter razão e detesto perder uma disputa.
Isto de não ir atrás de ninguém para o poço... quando com poço me refiro a ser má e usar truques baixos do tipo os fins justificam os meios... quando é um poço que usam contra mim... custa-me mesmo muito não retribuir na mesma moeda. Mas mesmo.
Tem sido muito difícil esta aprendizagem. Uma aprendizagem que não terminou, longe disso! Continuo a ceder demais às discussões quando devia simplesmente estar calada... continuo a enterrar-me no lodo, mesmo quando vejo que a pessoa não vale a pena.
Mas... já consigo respirar fundo e perceber que eu não sou assim e nºao quero ser assim e não vou ser assim.
Dar a outra face acho que não sei dar. Não aceito quem só me faça mal... a essas pessoas não dou um estalo, mas também não dou a outra face. Simplesmente, dou as costas... afasto-me!
Há muitas pessoas más por aí. Eu sou só ruim :)
Bom...se o meu irmão fosse para dentro de um poço por vontade própria eu nao iria atrás, mas se para lá tivesse ido por acidente ou engano, iria sem duvida atrás dele!
Mas agora ia era para dentro de uma piscina fresquinha...ia mesmo!!
Sayuri: Piscina... lago... lagoa... baía... mar :) poços é que não!
Kiss
Lá está uma pergunta engraçada. Dependendo da pessoa, eu saltaria. Tudo com base na confiança e, de um post que até já falamos de algo parecido. Era capaz de saltar por alguém que saltaria por mim, pior que uma queda é viver na solidão de um salto!!
Iandu: não era por aí que eu queria ir... claro que se um dos meus caísse, eu ia atrás. Sem qualquer dúvida...
A questão seria... se uma pessoa se manda para o poço, tu vais atrás só porque sim? Justificas a tua ida, com a ida do outro? Justificas as tuas acções com as dos outros? Posso ser má só porque há quem seja mau?
Eu posso ser má se eu escolher ser má... mas não tenho o direito de me justificar com os outros. Tenho de assumir a minha escolha. Se for para dentro do poço é porque o meu caminho me levou lá e não por ser "Maria vai com as outras". E não quero mais voltar a dizer o que dizia na infância... faço porque fulano faz... fui porque fulano foi.
Não por alguém ir que eu tenho de ir. Não é por alguém ser mau que eu posso também ser. Não posso. Basicamente porque não quero :)
De certo modo isso é a história da batatas que apodrecem ;)
Iandu: pois... s não te mexes acabas por apodrecer também. E eu não quero ficar podre :)
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