"Precisava agora de considerar as consequências de tudo o que fora dito nessa conversa. A tentação de aceitar o sacrifício que Amélia se propunha fazer era enorme. Enorme. De uma assentada, e graças a um maravilhoso passe de mágica, ver-se-ia livre do pesadelo horrendo em que a sua vida subitamente se transformara. Como não desejar isso? Mas a verdade é que a magia não passava de puro ilusionismo e Luís não podia aceitar que tanta gente pagasse o preço que seria inevitavelmente cobrado pela sua ilibação. Amélia pagaria com dureza, o marido também, Joana igualmente, para não falar naquele filho que acabara de descobrir.
Pegou na fotografia que Amélia lhe tinha oferecido e contemplou o sorriso infantil que o espreitava do outro lado.
"O meu menino", murmurou.
Uma e outra vez a mente voltou às consequências de aceitar o sacrifício que Amélia se propunha fazer, e sempre, sem falhar, chegou à mesma conclusão. Se Amélia contasse toda a verdade, desgraçar-se-ia a ela e a todos. Incluindo ao seu filho, dali em diante um bastardo que acabaria por ser educado longe da mãe e usado como arma para a punir por uma paixão que jamais deveria ser crime. O pequerrucho tornar-se-ia o bode expiatório do adultério da mãe e não havia nada que ele, Luís, e Amélia pudessem fazer para o proteger. E como seria a vida dela nessas condições? Expulsa pelo marido, longe dos filhos, rejeitada pela irmã, apontada por todos como mulher adúltera, Amélia embarcaria numa viagem de perdição. Se a vida, tal como ela se apresentava nesse instante, já era dolorosa, então tornar-se-ia insuportável.
Isto ele não podia aceitar.
Não tinha dúvidas, porém, que Amélia avançaria mesmo com o seu supremo sacrifício.
(...)
Se Amélia estava disposta a avançar para o supremo sacrifício, então ele não tinha o direito de mostrar menos coragem. O sacrifício teria de ser seu, só seu; essa era a única saída realista para toda aquela confusão."
Pegou na fotografia que Amélia lhe tinha oferecido e contemplou o sorriso infantil que o espreitava do outro lado.
"O meu menino", murmurou.
Uma e outra vez a mente voltou às consequências de aceitar o sacrifício que Amélia se propunha fazer, e sempre, sem falhar, chegou à mesma conclusão. Se Amélia contasse toda a verdade, desgraçar-se-ia a ela e a todos. Incluindo ao seu filho, dali em diante um bastardo que acabaria por ser educado longe da mãe e usado como arma para a punir por uma paixão que jamais deveria ser crime. O pequerrucho tornar-se-ia o bode expiatório do adultério da mãe e não havia nada que ele, Luís, e Amélia pudessem fazer para o proteger. E como seria a vida dela nessas condições? Expulsa pelo marido, longe dos filhos, rejeitada pela irmã, apontada por todos como mulher adúltera, Amélia embarcaria numa viagem de perdição. Se a vida, tal como ela se apresentava nesse instante, já era dolorosa, então tornar-se-ia insuportável.
Isto ele não podia aceitar.
Não tinha dúvidas, porém, que Amélia avançaria mesmo com o seu supremo sacrifício.
(...)
Se Amélia estava disposta a avançar para o supremo sacrifício, então ele não tinha o direito de mostrar menos coragem. O sacrifício teria de ser seu, só seu; essa era a única saída realista para toda aquela confusão."
A vida num sopro, José Rodrigues dos Santos
Acabado de ler hoje... Acho que marquei mais de metade do livro. Um romance sobre Portugal, a vida, a morte, o amor, a paixão, o sofrimento e sobre a o Amor de letra maiúscula. Aquele Amor tão grande que abdica da sua felicidade pela felicidade do outro. A incapacidade do Homem perante as circunstâncias em que vive. "Não passamos de marionetas das circunstâncias". Um romance vivido há 80 anos, num Portugal de há 80 anos. O rigor histórico, a riqueza das personagens. Sublime.
14 comentários:
Fiquei com imensa vontade de descobrir esse Portugal...vou coloca-lo na minha lista de livros a Ler.
Beijos
im: tinha-o desde Dezembro... já sabia que ia ficar agarrada. O JRS escreve muito bem e consegue misturar de tal forma ficção e História que... é sublime!
Beijos
Não li este livro, mas este excerto fez-me lembrar uma história que me marcou, e sobre a qual já escrevi no meu blog.
Não está no topo da lista, mas está na lista ;)
Marcar mais de metade do livro é muito bom sinal. :) E não há nada como aquela sensação que temos quando acabamos de ler um bom livro.
Hum... mais um para colocar nos "a adquirir"; obrigada pela sugestão! :)
Sayuri: pelo que entendi, esta história de amor é baseada na vida dos avós do JRS. Eu gostei muito...
Verónica: eu gostei! Mas... eu gosto de romance histórico! :)
Mr. Rice: este livro é uma lição... de História e de humildade... e é tão estranho vermos que tantas coisas que temos como adquiridas eram um luxo há umas décadas atrás...
Mag: Pena que os livros sejam tão caros... acho um exagero... mas, este em particular, vale os euritos.
Kisses
Eu li e amei!
Foi a minha companhia nas viagens de metro em Londres. Estava a gostar tanto que já o lia devagarinho para que rendesse ainda mais! Passaram-se dias, depois de o ler, e eu ainda ía digerindo o romance! Dava comigo a olhar para o vazio e a pensar neste amor que ardia sem se ver...
Enfim... venham mais obras de louvor como esta! ;)
Estreliña: Ele é muito bom... Depois de já ter lido o Codex, a Fórmula de Deus e o Sétimo Selo, este não desiludiu... pelo contrário. Abriu-me o apetite para A filha do Capitão.
:)
Kisses
não gostei nada ;) a começar pelos personagens:)
Anita: eram outros tempos... :)
Kiss
Ainda não li, mas está na minha lista...:)
bjitos
Lilipat: eu adoro História... e História deste período fascina-me... adorei!
Kisses
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