24 de setembro de 2009

Ela...

Hoje acordei para o inevitável. É a ele que eu quero.

Já pensei muito sobre isto. Já medi as consequências. Já pensei no que as pessoas podem dizer. Já vi e revi tudo… o que fazer… o que dizer… Não posso mais manter-me assim… na angústia de o ver todos os dias e de todos os dias não lhe dizer o que sinto… que me arde o sangue nas veias… que o meu coração só bate quando o vejo… que os meus olhos só o procuram a ele… que o meu corpo só o quer a ele…

Imoral? O amor não pode ter restrições. Amor que é amor, daquele amor verdadeiro, tem de ser vivido em toda a sua plenitude. Totalmente. Sem amarras sociais…

Sem amarras sociais… então por que me demovo? Por que não avancei ainda? Medo? Talvez… há algo em mim que me impede de me envolver mais com ele. Mas não é medo de que descubram… é medo de ser rejeitada.

Ele é jovem. Vibrante. Atlético. Espirituoso. É perfeito… perfeito perfeito perfeito…. Tão perfeito. E eu… aqui estou quase nos 40. Com a cara marcada pelo tempo. Com as minhas conversas tão cheias de antigo. Não sei falar dessas coisas de que os jovens falam agora… Não sei de futebol… não sei de música… não sei de carros desportivos nem dos assuntos das aulas de Desporto da Universidade. Não sei. Não sei. Não sei. Não…

Contudo… eu não lhe sou indiferente. Sinto-o despir-me com o olhar. Sinto-o querer-me. Sinto-o em mim como se estivesse de facto em mim. Sinto-o.

Luxúria? Desejo? Amor. Daquele amor que corrói. Daquele amor que me mata por dentro se não o puder viver. Não quero saber de mais nada. Quero-o.

Quero vivê-lo. Hoje sei disso. Depois de meses de indecisões. Depois das trocas de olhares. Depois das trocas de sorrisos. Depois das conversas de circunstância à frente dos outros. Do pai dele…

Hoje vou saber. Se ele também me ama… se me quer… se me vê como mulher. Hoje… depois do jogo de futebol dele. Depois da festa de subida de divisão. Hoje. Não vou deitar-me cedo. Vou deixar-me ficar… beber um pouco de vinho e tomar uma atitude.

Recebi um bilhete. É dele. Ele quer-me na festa. Ele quer-me. Senti o seu olhar em mim enquanto o lia. Ele quer-me. Ele vai ter-me. Doa a quem doer. Um amor assim tem de ser vivido… nunca me senti assim… nem quando era adolescente… nem pelo meu marido… mas sinto-me assim agora e não posso virar as costas a isto. Não agora que sei que ele me quer. Não agora. Nunca mais. Ou não me chame Fedra.

20 comentários:

NI disse...

Infelizmente não consigo comentar.

Apenas posso dizer que gostaria de ter escrito este texto e que te desejo toda a sorte do mundo.

Aproveita minha querida.

Beijo enorme

Isandes disse...

Hum... se bem me lembro, a história da fedra não acaba lá mt bem, lol congrats, *

Tretoso Mor disse...

Ianita,

Lindo texto, parabéns!...

Olha que eu, caso a Fedra não fosse rejeitada, bem que lhe emprestava um "tintim" dos meus, para ela ter coragem de se declarar.
(Lá estou eu com estas TRETAS!)

Não me leves mal, porque cheira-me que o caso está mesmo sério...

Tretices encorajadoras para ti.

Tretoso Mor

bono_poetry disse...

Uau!!!Se eu tivesse agora uma cena torrida com uma espartana cheia de forca ,acho que tocava a lua na boa!!!amei!!adorei!

M disse...

É tãããããooo booooommmm :)
'Solo se vive una vez!'

Inês disse...

Atenção... O Teseu da Fedra, andava metido com umas Amazonas... e a coisa deu para o torto.

Bejico

Anónimo disse...

O Amor é para ser vivido intensamente, às vezes dói mas que se viva...

Digo eu que não percebo nada disto ...:P

K,

Vera Angélico disse...

Olha... eu fiquei à espera do reso. Sou uma insatisfeia por naureza, é o que é!!!

Rony disse...

Bravo Ana!

É sempre um prazer reencontrar os clássicos e esta tua incursão pelos caminhos da recriação da tragédia foi muito bem conseguida. Aguarda-se o próximo episódio ;)

spritof disse...

há continuação, ou essa cabe à imaginação dos/as leitores/as?

:D

Ianita disse...

Ni: a história não é minha... está só reinventada :) Culpa o Eurípides ;)

Isandes: e alguma acaba bem? :)

Tretoso: ela coragem tem... para a declaração e para muito mais... :)

Bono: mas e se o Lito não quiser?

Sayuri: sim... mas o nosso querer viver não deve impedir os outros de o fazerem... ou vale tudo?

Inês: o problema aqui não é o Teseu... ou será quando ele não apoiar o Hipólito e a defender... as fragilidades humanas podem ter consequências trágicas... pena que haja quem não perceba e viva como se não partilhasse o Mundo com mais ninguém...

Chocolate: sim.... mas o amor tem limites. Tem condições. Amor incondicional é para quem vive sozinho no seu Mundo... o Amor tem a condição do respeito pelo outro e do respeito por si-mesmo. Há limites... pelo menos há para mim. Não os houve para a Fedra e não os há para muita gente...

Vera: o resto já aí está em cima :)

VG: :D Obrigada! Não tenho jeito para inventar coisas... mas isto de me meter na cabeça das personagens é giro :)

Spritof: esta história está escrita há milhares de anos... e eu não cometeria a blasfémia de alterar o seu desfecho :)

NI disse...

Dammm...tenho que colocar a leitura em dia.

É o que dá ler Biancas e Sabrinas às toneladas.

:)

Anónimo disse...

Sim é verdade há limites para tudo na vida...

Já li o desfecho e confesso que é triste...

E porque no Amor um pilar é o respeito por aqui me fico

Vera Angélico disse...

LOL! Reparaste como o meu teclado não escreve os "t"??? MEDOOOO!!!!

m-a-g disse...

E viva a loucura :)
Texto fantástico. Queremos mais!

Ianita disse...

Ni: também gosto! Do Algarve trouxe uma dezena deles :) Mas, de vez em quando, gosto de ler outras coisas... e as tragédias gregas têm três grandes vantagens: são muito bem escritas, têm personagens e histórias fortíssimos e são curtíssimas! :) A maior parte delas cabem num bolso :)

Ianita disse...

Chocolate: sabes... chateia-me o discurso do amor vale tudo e patati patatá... que devemos apostar tudo e tal... eu nunca deixaria a minha família por homem nenhum. E não me digam que não sei o que é o amor porque eu sei muito bem... e sei que o amor por qualquer homem não vai nunca suplantar o amor que sinto pela minha família, por aqueles dois ou três amigos mais próximo, por mim-mesma e pelos meus valores... assustam-me as pessoas que proclamam amor incondicional... porque as pessoas que declaram o amor incondicional são aquelas que depois matam, mentem, mandam ácido à cara uns dos outros e afins. Isso é que, para mim, não é amor. Porque amor é, acima de tudo, respeito pelo outro. :)

Neste caso... este amor doente da Fedra matou o Hipólito... o marido prefere acreditar nela a acreditar no próprio filho... e a Fedra acaba por se suicidar quando vê a devastação que causou. Ficção? Verdade. Mas está demasiado perto do que vejo acontecer todos os dias para me ser indiferente...

Ianita disse...

Vera: muito medo!! :)

Caluda: sim... para eles o Amor-paixão era loucura... :)

NI disse...

Eu gosto mais das histórias de amor celtas.

:)

Ianita disse...

Ni: curto histórias dos tempos do Rei Artur e outras que mais... mas os clássicos são a minha paixão :)

Há um livro fantástico, o primeiro romance de cordel da história da literatura: Quéreas e Calírroe. Com direito a amor impossível, violência doméstica, uma gaja enterrada viva, um rapto por piratas, um outro casamento e um final feliz :) É a loucura total!