11 de dezembro de 2009

Mudanças

Há 4 anos a minha vida estava a dar uma volta. Uma volta daquelas bem grandes.

Terminei uma relação de mais de 5 anos. E fiquei num estado que nunca pensei. Chorei muito. Chorei muito em público, coisa que em mim não é normal nem comum. Lembro-me de um almoço com a Manuela, nas Cantinas Amarelas… eu não parei de chorar o almoço inteiro. Só lhe pedia desculpas, e as lágrimas brotavam mesmo sem eu querer.

Entretanto, não sei precisar quantos dias, mas alguns dias antes da separação, tinha ido a uma entrevista à Amadora. Para ser directora pedagógica de um ATL. E uma semana depois da separação recebo a resposta positiva. Tinha trabalho. Na minha área. Um desafio imenso. Longe de tudo e de todos.

E fui. De armas e bagagens fui. Para uma cidade que só conhecia de nome. Num dia fui arranjar quarto, em Queluz. E depois carreguei o carro e fui. Sozinha. Achava que afastar-me me iria fazer bem.

Foi um ano muito desafiante, esse em que estive na Amadora. Em termos humanos e pedagógicos. Aprendi imenso com aqueles meninos. E acho que consegui fazer algum bem.

Mas chorava de dia e de noite. Porque ali não havia lugares que me fizessem lembrar dele, mas uma pessoa lembra-se de qualquer forma. Uma série que dá na tv... Um comentário que alguém faz que nos faz querer pegar no telemóvel e ligar à pessoa. Pôr batom… porque ele não gostava que eu pusesse batom. Aquela blusa… Até a ursa azul… Tantas pequenas coisas… do meu dia-a-dia… que foram comigo porque faziam parte de mim. Assim como ele fazia parte de mim naquele momento. Porque não se apagam mais de 5 anos de convivência diária com um estalar de dedos. Nem com uma mudança de vida.

Porque, independentemente do que pensamos, as memórias não estão nos lugares nem nas coisas nem mesmo nas outras pessoas. As memórias estão em nós. E vão connosco para onde formos. Seja para a Amadora, seja para o outro lado do Mundo. A premissa é a mesma. E não se apagam nunca... só aprendemos a conviver com elas... e com a dor e a raiva.

Eu comecei a recuperar quando voltei. Quando voltei para a minha casa, para as minhas pessoas. E independentemente de todas as pessoas boas que encontrei, de tudo o que aprendi, quando olho para trás, aquele ano foi um ano de estagnação. Foi um ano perdido. Foi um ano de muito pouca evolução. Foi o pior ano da minha vida. Porque a mágoa, a raiva, o amor iam comigo. Dentro de mim. E fosse para onde fosse, iam comigo. Sempre. E só o Tempo me curou. O Tempo e eu perceber que precisava de mudança. Interior e não exterior.

8 comentários:

m-a-g disse...

Grande texto Ianita! Adorei!

A mudança mais importante vem mesmo de dentro.
Não adianta mudar de país, de cidade, de namorado... quando não estamos preparados para mudar.
Mas quando mudamos por dentro, tudo muda à nossa volta, não é? É tudo bem mais fácil e muito melhor ;)

M disse...

Eu ando a precisar de mudar praticamente todos os meus paradigmas internos...

Rice Man disse...

Costuma-se dizer, "O que não nos mata torna-nos mais fortes." (Nietzsche)... mas, como disseste e muito bem, isso não é instantâneo, requer tempo. Tempo para assimilarmos o que aconteceu, tempo para nos habituarmos a voltar a viver, porque a vida não pára por nossa causa e nós só mudamos se vivermos.
Não conheci a Ianita de há 4 anos e não sei o grau de mudança interior que por que passou mas a Ianita que dás a conhecer nos dias de hoje é forte e bela por dentro. ;)

Ianita disse...

Caluda: precisamente :)

Sayuri: dá o grito do Ipiranga!!!

Rice: caramba, Rice... por dentro e por fora!! LOL :)

FATifer disse...

Gostei de ler… gosto da forma como consegues transmitir-nos o que sentes…

Entendo-te mas não consigo sentir… sou um ser muito mais solitário consigo mesmo… (cada um é como cada qual).

Beijinhos,
FATifer

Ianita disse...

Fatifer: cada um é como cada qual :)

Não podemos fazer com sentimentos e experiências uma cena à Mel Gibson e Rene Russo na Arma mortífera (quando eles comparam marcas de balas e cicatrizes). Porque a minha dor não é menor nem maior do que a tua. Porque a minha dor não é mais nem menos legítima que a tua. Porque a minha vida não é melhor nem pior. Porque as minhas experiências não são mais nem menos nem melhor nem pior nem nada. Podemos sentir empatia. Podemos tentar entender. Podemos apoiar.

Mas mesmo em situações aparentemente semelhantes nunca sabemos. Porque a dor é de quem a sente. Eu sinto a minha e tu sentes a tua. E é assim. Não mal nisso porque é impossível eu sentir o que tu sentes. E é impossível sentires o que eu sinto.

Nisto tudo o que eu queria dizer é que... os nossos sentimentos e experiências podem ajudar os outros. Mas não devemos cair no erro de fazer juízos de valor...nem de dizer "a minha dor é maior que a tua" ou "a minha dor é mais legítima que a tua". Isto não existe. Pelo menos para mim.

E há que dar valor Às superações. Há que dar valor a quem consegue ver além da sua dor e ainda ajudar os outros. Há que entender...

Acho que pus os pés pelas mãos nesta resposta... mas pronto. Era isto. Acho. :)

Kisses

FATifer disse...

Entendo a tua sensação de falta de coerência na resposta que me deste mas acredita que, sendo eu também propenso a “divagações”, não só compreendi perfeitamente o que queres dizer, como apreciei bastante a forma como o fizeste (adorei teres ido buscar a cena que citaste do Lethal Weapon!). Partilho a tua forma de ver as coisas… (não dá para te explicar em poucas palavras porque disse o que disse, talvez um dia te explique…).

Reafirmo que gosto da forma como consegues transmitir o que sentes pela tua escrita e isso agrada-me! Obrigado pela partilha e por esta resposta.

Beijinhos,
FATifer

Ianita disse...

Fatifer: muitas pessoas me dizem que eu escrevo como falo... eu costumo dizer que penso enquanto escrevo. E, por isso, a minha escrita sai, muitas vezes, ao sabor do pensamento. Escrever ajuda-me a formatar ideias, a organizá-las... e às vezes chego ao fim de um texto a dizer exactamente o contrário do que tinha começado a dizer... é como se argumentasse comigo própria... como se conversasse comigo... estranho, não é?

Beijinhos e obrigada pelas palavras