20 de janeiro de 2010

Jornalistas

Aprendemos na escola que quando a Terra treme devemos assumir uma posição de segurança... ir para debaixo de uma mesa... ficar de cócoras numa esquina interior... fugir de portas e janelas... e, assim que a Terra pare de tremer, sair com calma e procurar um lugar seguro ao ar livre.

Aprendi há muitos anos e ainda hoje sei. Ficou enraizado. O que não está enraizado é o que devemos fazer quando estamos em casas que vão abaixo como um castelo de cartas. O que não está enraizado é o que devemos fazer no pânico de ficarmos soterrados.

Toda a gente sabe que a Terra tremeu no Haiti. Toda a gente sabe o que se passou. Toda a gente viu imagens na TV. Sabendo disto tudo... pior! Vendo ao vivo isto tudo, não me admira que, ao sentir a Terra tremer outra vez, o jornalista da RTP, Vítor Gonçalves, tivesse saltado pela janela. Não esperou debaixo de uma mesa nem numa esquina. Saltou pela janela. E esse salto causou-lhe ferimentos cuja extensão ainda não se conhece.

Ainda no outro dia, penso que Domingo, estava a ver um programa na RTP2, apresentado pela Márcia Rodrigues (costumo ver, mas não me lembro do nome) e estava lá uma outra jornalista que contou qual tinha sido o momento mais marcante na vida dela enquanto jornalista. Disse que, enquanto repórter, tinha visto e vivido muitas coisas, que com o tempo as pessoas aprendem a viver com algumas coisas, mas que a marcou muito o que tinha vivido na Tailândia, depois do tsunami. Falou de uma mãe. Uma como muitas outras. Uma mãe que se salvou e que salvou uma filha, mas que chorava a dor de ter perdido o filho. Porque teve de o largar. Salvou um filho e deixou morrer outro porque não tinha forças para agarrar os dois.

Na altura comentei com a Rony que vida de repórter de guerra, ou repórter de catástrofes não é fácil. Não sei como é que se vive com isto tudo.

Nós... nós mudamos de canal. Fingimos que vemos, mas não vemos. Porque eles estão lá. 24h por dia, todos os dias. Não só vêem, como sentem, vivem.

E não sei como é que se pode ter uma vida normal depois do que eles passam por lá. As tragédias... os tiros... os raptos... os assassínios...

Gosto do Vítor Gonçalves. É daqueles poucos jornalistas que conheço pelo nome e pela voz. Contam-se pelos dedos das mãos. Gostei muito das reportagens que fez na campanha eleitoral americana. Um bem-haja para ele e para todos os que estão deslocados do seu país, a trabalho ou em voluntariado, abdicando do seu conforto e, mais que isso, arriscando as suas vidas.

As melhoras ao Vítor Gonçalves.

14 comentários:

bono_poetry disse...

decisoes... e sim um abraco a todos!!!quem se cansa assim nao gosta de cercas...

Rui disse...

Terrivel a vida de jornalista nestes cenários.
... e é de ter ainda em conta que para além dos riscos, devem passar um mau bocado, relativamente à "cama" e à "mesa", "higiene" e muito mais.
Não queria estar na sua pele.
Admiro-os.
.

bono_poetry disse...

va,faz la um esforco menina..traz qq coisa boa!!!

bono_poetry disse...

viste?conseguiste qq coisa...hehehe va mais mais mais...desconfio que vais ser a primeira a descobrir a logica do jogo!!!quer dizer do piqueniue!!

bono_poetry disse...

tenta la outra vez,va!!

bono_poetry disse...

va la mais um esforcinho,tas quase quase la...

Rony disse...

Podemos saber em teoria como agir, mas na prática é que se vê como reagimos, tendo em conta as condicionantes e toda a situação envolvente. São experiências limite, espero nunca viver nenhuma.

FATifer disse...

Podia ficar calado mas não é do meu feitio…

Respeito que gostes dos jornalistas que citaste e os admires mas eu não admiro, aliás se há classe profissional que não respeito (salvo cada vez mais raríssimas excepções) é exactamente essa, dos jornalistas. Não gosto do Vítor Gonçalves, (embora não lhe deseje mal nenhum também) não o acho com competência para estar onde está (nem sabe falar inglês correctamente!).
(a Márcia Rodrigues então nem vou comentar pois essa até já tive o desprazer de conhecer pessoalmente!)
Em situações como a do Haiti, admiro os voluntários que vão para ajudar. Os jornalistas na sua maioria vivem de desgraças mesmo que sejam humanos e sofram com o que vêem, actualmente tentam mostrar sempre o mais trágico cenário que encontram, isso para mim não é jornalismo.

Bem não me vou alongar mais… acrescento este assunto à lista de coisas para falarmos da próxima vez que nos encontrarmos pessoalmente (a lista é ainda só mental mas acho que vou ter de começar a escrever!)

Beijinhos,
FATifer

Ianita disse...

Fatifer: há bom e mau jornalismo, feito por bons e maus jornalistas. Há bons e maus profissionais de tudo.

É lógico que admiro os voluntários que abdicam do seu conforto para irem ajudar os outros. Os jornalistas estão a ganhar dinheiro, mas, não deixam de estar a abdicar do seu conforto, não deixam de estar a arriscar a vida. E, acho eu, não há dinheiro que pague isso.

Não gosto de sensacionalismos e por isso é que normalmente só vejo notícias e reportagens na RTP. E são os jornalistas da RTP que mais reconheço.

Não gosto do trabalho da maioria dos jornalistas... os que ficam à porta dos Tribunais em busca de uma declaração, os que repetem a mesma pergunta milhares e vezes, os que passam, em meu entender, os limites do razoável.

Mas. Ainda bem que há jornalistas. Porque se não houvesse jornalistas não saberíamos das coisas. E cabe-nos a nós distrinçar entre o bom e o mau. A informação que nos interessa e o que não passa de sensacionalismo.

Eu vejo 20 minutos de noticiário. Tudo além disso não me interessa. Gosto do Zé Alberto de Carvalho, da Judite de Sousa e do Zézinho Rodrigues dos Santos, mas normalmente só consigo mesmo ver o noticiário da RTP2.

Podemos questionar tudo no trabalho de um jornalista, mas se não fossem eles e a divulgação que fazem não haveria tantos voluntários a irem para o Haiti, nem tantas ajudas, nem tanto dinheiro até mesmo de Portugal. Precisamente porque mostraram aquelas imagens... podemos achar que eles estão a ser sencionalistas, que abusam das imagens que mostram, mas mostram a realidade e a realidade que mostram ajuda a angariar mais fundos e ajudas.

Ou achas que haveria tanta mobilização para o Haiti se não fosse pela comunicação social?

A Rony falava-me hoje dos milhões de pessoas que morreram vítimas de genocídio no Cambodja, na guerra civil. Não vês uma mobilização para ajudar o país como há para o Haiti...

É um assunto complicado. Gosto do Vítor Gonçalves porque gosto das reportagens que faz e das perguntas, normalmente inteligentes e pouco previsíveis, que faz. Independentemente do inglês dele. Gosto.

Não é o meu preferido, longe disso, mas gosto.

Agora foi para lá o Zézinho e o seu colete :)

Também não gostas do Zézinho? É o meu preferido... ele e a Judite. E também gosto muito do Luís Castro.

Concordamos que discordamos e não há mal nenhum nisso. :)

Beijos

Ianita disse...

Bono: daqui a pouco organizamos nós qualquer coisa e não te convidamos! :)

Rui: estes que fazem trabalho "a sério" admiro... a outra maioria que por aí anda já não admiro. Mas estes que abdicam do seu conforto para ir, esses eu admiro. Mesmo sabendo que estão a trabalhar e a receber ordenado... ainda há poucos meses fui convidada para ir para a Guiné, a ganhar muito dinheiro, e não quis ir. Precisamente porque, para mim, não há dinheiro que pague a minha qualidade de vida...

Rony: e por mais simulacros que se faça... só na hora H é que se sabe...

bono_poetry disse...

Achas?lol!!!ve la bem!!

FATifer disse...

“Concordamos que discordamos e não há mal nenhum nisso. :)”

É por saber que é esta a tua postura que deixo por aqui a minha opinião e porque gosto da forma como respondes e deixas as tuas.

Começando pelo fim, direi que o Luís Castro é uma das honrosas excepções que mencionei.

O Zézinho, como lhe chamas, é uma das minhas desilusões. Eu respeitava-o mas, na minha opinião, tem cedido ao sensacionismo. Há textos que o oiço ler, erros que o oiço fazer que não parecem de alguém que já trabalhou na BBC. (parece que até escreve muito bem livros mas nunca li nenhum…)

Nunca gostei da Judite de Sousa e cada vez gosto menos, por alguma coisa está loura também por fora! E mais não digo…

Poderás estar a pensar que sou demasiado exigente/severo, talvez. Concordo que, como dizes: “Há bons e maus profissionais de tudo” mas no caso dos jornalistas deveria haver muito mais bons que maus e o que vejo é o contrário. Claro que não é tão grave como um médico, por exemplo, que se é mau pode pôr em causa directamente vidas mas, como fazedores de opiniões que acabam por ser, os jornalistas deveriam ter muito mais ética profissional do que têm e não usar a ética como “arma de arremesso” quando tal lhes convém…

“E cabe-nos a nós distrinçar entre o bom e o mau. A informação que nos interessa e o que não passa de sensacionalismo.”

Concordo em parte pois acho que não devíamos ter de ter esse trabalho, um jornalista devia relatar os factos. Não sei se não te irrita mas a mim irrita-me profundamente os pseudo-jornalistas que fazem a pergunta (muitas vezes já ela tendenciosa) e depois ainda ficam a “explicar” por palavras deles a resposta que obtiveram!

Uma vez mais acho que vou parar por aqui que já chega de “bater no ceguinho” mas será um tema que terei todo gosto em debater contigo da próxima vez que nos virmos, caso queiras.

Beijinhos,
FATifer

Ianita disse...

Fatifer: um jornalista é, antes de tudo, um ser humano e ser-se humano não é algo que se desliga com um interruptor.

Um jornalista tem opiniões, tem pensamento, tem emoções. Como um professor que, independentemente do que diga, tem preferidos. Negar isso é dar espaço para nos influenciarmos pelas preferências. Eu sempre as tive e sempre as reconheci e por saber que as tinha é que nunca me deixei levar por elas. Mas é lógico que quando estás entre o 9 e o 10, mais facilmente dás o 10 a um aluno com quem simpatizes do que a um aluno de quem não gostes. Devemos evitar este tipo de juízos, mas eles existem.

Um jornalista pensa e sente e deve tentar não o demonstrar quando está a relatar algo. Mas é um homem que está a relatar e não um robot. Mesmo que fossem só imagens, são imagens que reflectem a visão de uma pessoa. E a visão de uma pessoa é sempre parcial porque não consegue captar todos os ângulos ao mesmo tempo.

Temos de admitir e aceitar isto, que há parcialidade e subjectividade. Mas, claro, dentro dos limites do razoável. Acho que o Zézinho manda umas piadolas e tal, mas não passa o limite do razoável. É extremamente inteligente e competente em tudo o que faz.

Eu não vejo notícias na TVI. Acho que a Manuela Moura Guedes é um péssimo exemplo do que deve ser um pivot de telejornal. Pivot. Porque aquela senhora não é jornalista. E por mais politicamente incorrecto que tenha sido o comentário, a verdade é que o nosso 1º Ministro tinha razão. Aquilo que ela fazia no Jornal Nacional não era jornalismo!! O Marinho Pinto também tinha razão. Ela é mal-educada e ataca as pessoas!

Ou seja, concordo com tudo o que dizes, mas acho que sou mais tolerante. Faço as mesmas críticas que tu fazes, mas não a jornalistas como o Zézinho a quem respeito muito enquanto profissional.

Mas vá, todos temos os nossos ódios de estimação e implicâncias. Eu não posso com a Fátima Lopes, a Marta Leite Castro e o Jorge Gabriel. Só a voz deles faz-me querer estrangular pessoas :)

Cada um com a sua :)

Beijos :)

FATifer disse...

Desculpa insistir mas quero só esclarecer dois pontos:

Em relação ao Zezinho concordo no geral como o que dizes mas as críticas que tenho são erros de português que já o ouvi cometer e que por mais que seja humano, como dizes, não admito nem desculpo a um profissional como ele (eu sei, muito pouco tolerante da minha parte mas não estou falar do jornalista acabado de sair da faculdade que esses não sabem falar mesmo!)

Também não posso com as três personagens que citaste e se quiseres acrescento o Malato que até pode ser muito boa pessoa mas alguém o convenceu que tem piada e enganou-o! :P

Beijinhos,
FATifer