Deixei passar o dia da Poesia... Mas não posso deixar passar os 30 anos do Jornal de Letras. Não é uma data instituída, mas uma data para a qual se trabalhou muito. Um Jornal que não é para intelectuais. Um jornal que defende a portugalidade, a nossa cultura, o que é nosso.
E então, em jeito de festejo, deixo aqui dois registos. Uma música do José Mário Branco (agora mesmo na TV), com poema de Luís Vaz de Camões. Mudam-se os Tempos, mudam-se as vontades. E depois, Fala do homem nascido, poema de António Gedeão, que penso muito adequado a esta efeméride e a uma outra a festejar-se no próximo Sábado, curiosamente, também 30 anos :)
E então, em jeito de festejo, deixo aqui dois registos. Uma música do José Mário Branco (agora mesmo na TV), com poema de Luís Vaz de Camões. Mudam-se os Tempos, mudam-se as vontades. E depois, Fala do homem nascido, poema de António Gedeão, que penso muito adequado a esta efeméride e a uma outra a festejar-se no próximo Sábado, curiosamente, também 30 anos :)
Fala do Homem nascido
Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci
Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr
Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham
Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu
Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar
In Teatro do Mundo, 1958
2 comentários:
Quando oiço José Mário Branco lembro-me sempre de estar no Clube de Rugby a dançar ao som da sua música, numa noite em que a selecção musical foi surpreendentemente irreverente, lol, só mesmo no Clube... Uma noite memorável, entre tantas outras...
Quanto ao Gedeão, adoro, recentemente (re)descobri este:
Viagem
Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revôlta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.
Ps. Vai sair quadro :)
Rony: José Mário Branco no Clube é qualquer coisa... eles, de facto, às vezes lembravam-se de cada uma... LOL
"Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos"
Nem mais nem menos... só nos é concedida uma vida e temos de a viver ao máximo! Enjoy the ride! :)
(depois quero foto)
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