28 de abril de 2009

Malabarismos




Nunca fui pessoa de perícias. Nas aulas de desenho ou de trabalhos manuais conseguia ter um 3 ou um 4, mas nunca consegui fazer trabalhos perfeitos. A minha mãe tentou incutir-me o gosto pelas rendas e bordados, mas essa também nunca foi a minha onda. Faço o que posso, dou o meu máximo, mas não deixo de ser um bocado trapalhona e atrapalhada.

No outro dia falava de escolhas. Falava nas muitas coisas que nos são impostas e de termos de tomar responsabilidade pelas nossas escolhas. Eu tento. Isso de tomar responsabilidade pelas minhas escolhas. Nem sempre são fáceis, mas tento que sejam tomadas em consciência. Escolho mediante aqueles que são os meus objectivos de vida, mediante aquilo que eu quero. É facto que o que eu quero até pode não ser o que eu preciso, mas tenho de ter um critério e o meu critério é este.

O que eu quero é independência. Poder sair de casa dos papás e ir viver sozinha (sim, sozinha!) antes dos 30 anos. Foi por isso que deixei o Ensino. Aliás, tivesse deixado o Ensino mais cedo e talvez já tivesse alcançado este objectivo, mas... lá está... fiz as minhas escolhas em consciência e não me arrependo delas. Deixei o Ensino para ir trabalhar numa empresa de construção civil a receber o ordenado mínimo. Atendia telefones e pouco mais. Passava os dias a oferecer ajuda às minhas colegas que me iam dando algumas tarefas para fazer. O patrão ia-me pedindo mais umas coisitas. Nunca saí à hora certa. Nunca piquei o ponto às 18h, assim como nunca disse que não a trabalho nenhum que me pedissem para fazer, por mais assustada que estivesse.

Não vale a pena dizerem-me que os patrões se aproveitam. É facto. Cheguei a sair do trabalho à 1h da manhã e a ter de, no dia seguinte, entrar às 9h. Mas nunca ninguém me obrigou a nada, nem me deram a entender que se não ficasse mais tempo não me renovariam os contratos. Passaram 10 meses e chamaram-me para me perguntarem quanto queria de aumento. Pedi e deram-me exactamente o que pedi. Em 10 meses, vi o vencimento quase duplicar, quando tenho colegas de trabalho que estão ali há 4 anos, já efectivas e que continuam no ordenado mínimo. Mas, lá está, todos os dias saem às 18h. Não fazem mais do que são as suas funções... Aliás, mantiveram sempre as mesmas funções ao longo de 4 anos.

E por mais que tudo tenha corrido bem e eu tenha tido o que pedi, a verdade é que não estou satisfeita. Quero mais. E por isso continuo a dizer que sim, quando talvez devesse dizer que não. Continuo a ajudar as minhas colegas, mesmo quando as minhas funções são 30 vezes mais do que no dia em que ali entrei. Faço traduções, mesmo detestanto fazer traduções. Vou a provas de kart quando o que me apetecia era ficar em casa a vegetar. É a minha escolha. É o que sinto que tenho de fazer agora.

Posso, claro está, estar a esforçar-me e em Setembro não passar a efectiva. Ou posso passar a efectiva e em Fevereiro não ter o aumento que pretendo. Isso pode acontecer. Mas, se acontecer, não vai ser por falta de empenho meu. Vou estar de consciência limpa e de bem comigo. Se esta escolha falhar, não vai ser por falta de entrega.

E, assim, vejo-me a fazer malabarismo. Escolhi deixar algumas bolas de fora. Não é o tempo delas ainda e isso não me deixa infeliz. Esta é a minha escolha. As bolas que faltam no meu malabarismo não estão lá porque eu não quero que estejam. Será que algum dia as vou querer? Talvez. Não sei do futuro. Sei que esta é a minha escolha agora. Hoje. Nos próximos meses. Mantenho as bolas trabalho, família e amigos. Mesmo que às vezes a bola amigos quase fuja... mesmo que em vez de um telefonema demorado eu só tenha tempo para uma sms curta. Mesmo abdicando de um fim-de-semana com os amigos para ir para uma qualquer actividade da empresa. Estou a fazer o meu melhor para manter as bolas no ar. Posso até vir a deixar cair as bolas todas, uma vez que sou uma atrapalhada de natureza... mas vou ter dado o meu melhor. Esta é a minha escolha. Para o bem, e para o mal.

16 comentários:

Paulo Lontro disse...

Fazes o que tens que fazer e o que manda a tua consciencia. No entanto quem disse que a vida é sempre justa?

Rice Man disse...

Desculpa a insistência e repetição mas...

Ganbare, Ianita-san!!! :)

(Ganbare - to persist; to insist on; to stand firm; to try one's best; força!; coragem; estamos contigo!)

Não vais deixar cair essas bolas, Ianita. O que vai acontecer é que à medida que fores atingindo os teus objectivos, vais poder trocar algumas bolas por outras... e com o tempo vais também conseguir fazer malabarismo com mais bolas ao mesmo tempo. Até lá podes contar com o meu apoio e compreensão! ;)

Ianita disse...

Paulo: precisamente. Não é. Mas não podemos pensar nisso. Não posso pensar só nas coisas que podem correr mal, porque essas não dependem de mim. Sei que as coisas podem correr mal, tenho plena consciência disso, mas... escolho fazer o que está ao meu alcance. Escolho lutar. Se a vida não for justa... logo pensamos no que fazer ;)

Kisses

Ianita disse...

Mr. Rice: A ver... a ver o que acontece... a ver se as circunstâncias exteriores não se alteram. Por enquanto, é isto.

Obrigada. :)

bono_poetry disse...

...posso dizer que seria um orgulho poder ser teu amigo pois es um exemplo a seguir...vais ser recompensada e bem ,vais ver!!!eu trocava as minhas libras pelo teu equilibrio,acredita!

Um dia tenho de escrever sobre isto!

Ianita disse...

Bono: equilíbrio? Há quem me chame workaholic e parva LOL

Escreve :)

Kisses

Yiskay disse...

realmente é dificil equilibrar as bolitas da vida...a quem o dizes...mas a verdade é que com esforço tudo se consegue...e parece que te tens esforçado muito para isso...és uma lutadora...e assim sendo só tens a ganhar!!! (também nunca fui boa com bordados, eheheh)

beijinhos**

Ianita disse...

Yiskay: só nunca fui de desistir antes de começar, antes de tentar, por isso... até os bordados... primeiro tentei ;)

Kisses
(com vontade tudo se consegue!)

Eumesma disse...

E o que interessa no fundo é isso mesmo, é querer, e passar isso para os outros, essa ideia de querer, e querer é poder!!!

Mesmo que não consigas "deitar a mão a tudo" pelo menos tentaste e saber que tentaste não nunca ficarás de consciência pesada ainda que não consigas vir a realizar tudo o que desejas.

Desejo-te toda a sorte do mundo qto ao emprego, e continua assim com essa persitência e se as bolas cairem durante o malabarismo, agarras nelas e tentas novamente...;-)

Beijinhos e bom Feriado.

Ianita disse...

Eumesma: o espírito é esse... tentar e voltar a tentar e tentar novamente. Por mais que as bolas caiam, desde que estejam ao meu alcance, eu pego nelas novamente... :)

Obrigada e bom fim-de-semana

Kiss

Li disse...

Revejo neste texto muito de mim...porque eu também sou assim, também me entrego, me esforço, me dedico...infelizmente estou num sítio que não me permite mostrar aquilo que valho...o pouco que consigo fazer à distância, raramente chega a quem deveria e, aumentos?...nem vê-los...por isso tomei uma decisão (já falei contigo sobre isto) e espero que, com ela, possa mostrar que não me vou resignar ao tão pouco que me querem dar...que não vou ficar quieta enquanto me deixam para trás...:)

Inspiraste-me...adorei ler-te, hoje...:)

bjitos

Li disse...

Ah...ja me esquecia...ontem vi o senhor teu boss...:)

Ianita disse...

Lilipat: sim, já tínhamos falado disto. E sim, tens razão. Não te estás a resignar, pelo contrário. Estás a lutar pelo que queres.

As nossas escolhas só nós as podemos tomar. Porque as consequências dessas escolhas também somos nós que as vivemos. E embora nem sempre consigamos colher o que semeámos, temos de acreditar que conseguimos se nos esforçarmos.

Eu vou conseguir, e tu? :)

Beijos e Bona Fortuna!

Ianita disse...

Lilipat: viste? sempre cheio de estilo, não achas? Não te chamou "jeitosa"? LOL

Li disse...

Não, não me chamou nada disso...looooooool...ele chama-te isso muita vez, é?...eheheh

Se eu vou conseguir?...Claro que sim...:D

bjitos

Ianita disse...

Lilipat: já chamou algumas vezes sim... :)

Claro que sim! Eu sei que sim! :)