Desde que me conheço por gente, mesmo quando foi moda, que nunca gostei de me vestir toda de preto.
Tenho blusas pretas... camisolas... mas que visto com calça de ganga, nunca com calça preta. E as calças pretas são sempre usadas com camisolas de outra cor qualquer que não preto.
Não sei porquê. Não há um motivo lógico, só não me sinto confortável assim.
Vesti-me de preto para o funeral da minha avó. Basicamente porque achava que fazia sentido. Porque achava que o meu aspecto tinha de reflectir o que me ia na alma.
Hoje voltei a vestir-me de preto. Havia uma missa pelos meus avós e eu fui do trabalho directa para lá (o padre de hoje era bem mais competente que o ninfeto, embora fosse ainda novo).
Não consegui trabalhar. Não me conseguia concentrar. Sempre que me via, ou ao lavar as mãos na casa-de-banho, ou num qualquer reflexo, sentia o luto... sentia-me negra... sentia-me mal. Passei o dia de lágrima fácil. Na missa fartei-me de chorar... mesmo agora...
Entretanto amanhã temos o jantar de Natal da empresa. Este ano com muita pompa. A empresa até pagou viagens e estadias aos colaboradores das filiais estrangeiras, para que pudessem vir. O jantar vai ser no restaurante de um hotel novo, na Batalha. Os funcionários vão oferecer uma prenda à Administração e aqui a je até escreveu a dedicatória :). Ou seja... ou vou e vou tentar divertir-me e não vou andar a chorar pelos cantos... ou então não vou.
Decidi ir e estrear uma das camisas que comprei em Coimbra. De cetim. Rosa coral. A minha mãe teve um ataque quando me viu separar aquela camisa para vestir amanhã. Disse que lhe fazia impressão ver-me com aquela cor, estando nós de luto.
Entendo. Mas, depois de conversarmos um pouco, ela também me entendeu. A dor que sentimos hoje não se vai apagar nunca. Vamos aprendendo a conviver com ela, mas ela não vai deixar de existir. E nós temos de viver. Eu tenho de conseguir trabalhar e não passar os dias a fingir que faço alguma coisa. A minha mãe tem de voltar aos passatempos dela. Temos que conseguir seguir em frente... e ver-me de preto é lembrar-me a todos os segundos que estou de luto. Ver-me de preto é ver-me quase como se não quisesse seguir... como se estagnasse... tirar a cor da roupa é como tirar a cor da vida... E detesto ver a minha mãe toda de preto. Faz-me doer a alma... porque é quase como se tivesse, também ela, deixado de viver. Não o sei explicar melhor que isto...
A minha avó era viúva há quase 28 anos. Usou preto durante alguns anos até que deixou de usar. Quando começou a ir a uns retiros em Fátima. Um dos padres disse-lhe que o luto não deixava as almas dos que partiram descansarem. E ela deixou de vestir preto. Claro que não vestia rosa coral! Mas deixou o preto. Porque o que o padre queria dizer era que os mortos estão mortos e os vivos estão vivos. E algum dia temos de perceber isso e deixar a cor entrar. Deixar os mortos no lugar deles... no lugar que ocupam sempre dentro de nós. E não nos enterrarmos em vida.
A minha cara ninguém a muda. Estou abatida. Com olheiras fundas. Mas o preto só iria acentuar o mau ar. E não é isso que eu quero. Porque quem convive comigo não tem que levar com más energias... porque preciso de cor na minha vida. Amanhã... rosa coral!
Tenho blusas pretas... camisolas... mas que visto com calça de ganga, nunca com calça preta. E as calças pretas são sempre usadas com camisolas de outra cor qualquer que não preto.
Não sei porquê. Não há um motivo lógico, só não me sinto confortável assim.
Vesti-me de preto para o funeral da minha avó. Basicamente porque achava que fazia sentido. Porque achava que o meu aspecto tinha de reflectir o que me ia na alma.
Hoje voltei a vestir-me de preto. Havia uma missa pelos meus avós e eu fui do trabalho directa para lá (o padre de hoje era bem mais competente que o ninfeto, embora fosse ainda novo).
Não consegui trabalhar. Não me conseguia concentrar. Sempre que me via, ou ao lavar as mãos na casa-de-banho, ou num qualquer reflexo, sentia o luto... sentia-me negra... sentia-me mal. Passei o dia de lágrima fácil. Na missa fartei-me de chorar... mesmo agora...
Entretanto amanhã temos o jantar de Natal da empresa. Este ano com muita pompa. A empresa até pagou viagens e estadias aos colaboradores das filiais estrangeiras, para que pudessem vir. O jantar vai ser no restaurante de um hotel novo, na Batalha. Os funcionários vão oferecer uma prenda à Administração e aqui a je até escreveu a dedicatória :). Ou seja... ou vou e vou tentar divertir-me e não vou andar a chorar pelos cantos... ou então não vou.
Decidi ir e estrear uma das camisas que comprei em Coimbra. De cetim. Rosa coral. A minha mãe teve um ataque quando me viu separar aquela camisa para vestir amanhã. Disse que lhe fazia impressão ver-me com aquela cor, estando nós de luto.
Entendo. Mas, depois de conversarmos um pouco, ela também me entendeu. A dor que sentimos hoje não se vai apagar nunca. Vamos aprendendo a conviver com ela, mas ela não vai deixar de existir. E nós temos de viver. Eu tenho de conseguir trabalhar e não passar os dias a fingir que faço alguma coisa. A minha mãe tem de voltar aos passatempos dela. Temos que conseguir seguir em frente... e ver-me de preto é lembrar-me a todos os segundos que estou de luto. Ver-me de preto é ver-me quase como se não quisesse seguir... como se estagnasse... tirar a cor da roupa é como tirar a cor da vida... E detesto ver a minha mãe toda de preto. Faz-me doer a alma... porque é quase como se tivesse, também ela, deixado de viver. Não o sei explicar melhor que isto...
A minha avó era viúva há quase 28 anos. Usou preto durante alguns anos até que deixou de usar. Quando começou a ir a uns retiros em Fátima. Um dos padres disse-lhe que o luto não deixava as almas dos que partiram descansarem. E ela deixou de vestir preto. Claro que não vestia rosa coral! Mas deixou o preto. Porque o que o padre queria dizer era que os mortos estão mortos e os vivos estão vivos. E algum dia temos de perceber isso e deixar a cor entrar. Deixar os mortos no lugar deles... no lugar que ocupam sempre dentro de nós. E não nos enterrarmos em vida.
A minha cara ninguém a muda. Estou abatida. Com olheiras fundas. Mas o preto só iria acentuar o mau ar. E não é isso que eu quero. Porque quem convive comigo não tem que levar com más energias... porque preciso de cor na minha vida. Amanhã... rosa coral!
5 comentários:
Acho muito bem! E dá-me a sensação que a tua avó seria a primeira a apoiar-te na troca do preto por outras cores! Negra já vai a alma com a partida dos que gostamos...
Como te entendo... :(
Sabes que a minha esperiência com morte é dolorosa. E tenho as minhas ideias em relaão a cores. Acho que já te contei isto. Mas no dia em que o meu pai morreu, eu fui atrás da ambulância até ao hospital. A meio do caminho (impossível esquecer-me do lugar), disseram-me que não valia a pena. Ele tinha morrido. Fiquei estática. Acho que fiz um telefonema. Estive seguramente meia hora a chorar dentro do carro, até consegui regressar a casa. Quando regressei, estavam meia dúzia de vizinhas de volta da minha mãe, já com a preocupaão de lhe mudar a roupa. Ela, que nunca tinha vestido preto. Porque o meu pai é que lhe escolhia a roupa, e ele gostava de tons vivos. Não sei o que levei vestido ao funeral. Mas não foi preto total. As minhas saudades, a minha revolta, a minha raiva não se expressavam numa cor. Mas sim na perda. Naquele ser inerte, que era o meu exemplo de vida, e o meu amor maior. Não fiz periodo de luto. A minha mãe também não. Nenhuma de nós. Porque no nosso coraão, só faz sentido celebrá-lo. E cerebrá-lo é usar amarelo, cor-de-rosa, verde... o que for.
Entendo-te. A tua mãe vai entender. E bolas.... o que é que se passa contigo, que andas um caco e não apareces????
Beijos e saudades.
Ianita,
O luto, está no nosso coração, e não na cor da roupa que vestimos.
Visto-me muito de preto, e quando o meu pai morreu, estive sempre de castanho e beije, não para contrariar, mas porque era assim que me sentia bem.
Que sejas feliz!
Beijinhos
Luisa
Sayuri: concordo :)
Pax: não é fácil...
Vera: não é fácil lidar com o olhar de reprovação... e ainda hoje o meu pai pôs de lado uma camisa porque tinha uma risca vermelha... e eu de rosa coral LOL mas sim, o que conta é o que nos vai na alma. O que conta é o que vivemos com ela. E eu vivi a minha relação com ela com muita intensidade... (queres marcar um jantar de Natal?)
Luísa: sim, é mesmo isso. Temos de avançar e o que conta é a vida. A vida que tive com ela :) beijos
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